Ramones no clube underground do rock

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Hilly Kristal pode ser considerado um visionário ao abrir as portas de seu modesto CBGB para artistas como Television, Patti Smith e Blondie, no final da década de 1970. O proprietário do inferninho decidira diversificar, até porque as rádios tocavam à exaustão Led Zeppelin, Black Sabbath e uma penca de bandas de rock progressivo naquela época. Na oportunidade, quatro rapazes fãs de Stooges e MC5 também fizeram sua estreia, o grupo se chamava Ramones.

Claro que não podemos esquecer que os Ramones admiravam as bandas da chamada invasão britânica (Beatles, Stones e Who), mas sua principal fonte foi o pré-punk de Iggy Pop e seus capangas de Detroit, com forte presença do garage rock do início dos anos 1960. Essa celebração estética do rock básico, de poucos acordes e muita energia, delimitou uma ideia de som que influenciou uma série de outras bandas.

Tal impacto reflete diretamente no punk inglês, não à toa os dois shows (1976 e 1977) dos Ramones na Inglaterra desempenharam papel importante na consolidação do punk por lá, embora sua versão britânica tenha se tornado um movimento mais amplo e combativo – que não priorizava apenas a música, mas uma política artística (o NY Times publicou um belo texto sobre o tema nesta semana).

No CBGB, o Ramones tocou entre 16 de agosto de 1974 até fevereiro de 1976, e certamente o local está para o grupo punk como o Cavern Club está para os Beatles ou o Marquee para os Stones. O primeiro show dos Ramones não se reduz a um mero início de trajetória, mas é toda a compreensão do rock undergound que surgiu nos anos seguintes.

 

Alan Vega foi alternativa ao mainstream

POST SUICIDE
Martin Rev e Alan Vega (Suicide).

A morte do vocalista da dupla Suicide Alan Vega, na última semana, representou duro golpe na cena musical que emergiu como contraponto à música mainstream nos Estados Unidos, ao final da década de 1970. Semente do punk que explodiu em 1977, esse cenário trouxe nomes como New York Dolls, Blondie, Ramones, Richard Hell, Patti Smith e, claro, o ótimo Suicide.

No caso da dupla Vega e Martin Rev, este operador de sintetizadores e bateria, a influência foi estendida ao campo da música eletrônica por meio de uma linguagem de agressiva textura sintética e elementos rockabilly. Assim, o álbum de estreia Suicide (1977) codificava signos distintos que rompiam com qualquer associação aos produtos midiáticos de sua época, sobretudo por conta da parede sonora controlada por Rev que sedimentava a performance de Vega – que chegou inclusive a enfrentar o hostil e difícil público do punk britânico.

O trabalho do Suicide foi alternativa ao mainstream e hoje é celebrado por nomes como Primal Scream e Savages. Ambos, aliás, chegaram a gravar uma bela versão para “Dream Baby Dream”. Mas a lista de influenciados é longa – a Pitchfork publicou nesta semana uma ampla relação de artistas que beberam nessa fonte sonora –, com destaque ao sample de “Ghost Rider” usado pela cantora M.I.A na faixa “Born Free”.

Para homenagear Vega, finalizo este texto com ótimo álbum de estreia do grupo, obrigatório em qualquer discografia pré-punk, seguido pela versão do Savages para “Dream Baby Dream” e a pedrada “Born Free”.

 

 

Relação do Clash com os sons de Nova Iorque é tema de documentário da BBC

THE CLASH
(AP Photo/David Handschuh)

A ótima BBC Radio 6 exibiu nesta semana um documentário sobre a relação musical do Clash com Nova Iorque. Desde o segundo álbum da banda britânica, Give ‘Em Enough Rope (1978), quando Joe Strummer e companhia saíram em turnê pela primeira vez nos Estados Unidos, o grupo passou a absorver elementos sonoros da música norte-americana para elaborar suas principais obras.

Dividido em três partes, o documentário para rádio é conduzido por Don Letts, figura importante da cena punk inglesa – seja pelas discotecagens nos intervalos dos shows ou pelos documentários sobre o movimento musical que dirigiu. O especial ainda traz comentários de Mick Jones, Terry Chimes e do fotógrafo Bob Gruen, além de reforçar que durante os rolês pela cidade norte-americana o Clash encontrou artistas do porte de Afrika Bambaataa, Grandmaster Flash e Debbie Harry (Blondie).

O foco do trabalho é direcionado aos grandes shows que o grupo inglês fez em Nova Iorque, como a lendária temporada de 17 apresentações no Bond International Casino. Entretanto, é interessante notar como o Clash se envolveu musicalmente com fronteiras sonoras marginais, ao encontrar o reggae, o hip hop, o funk e o jazz (entre outras vertentes), afastando-se de uma estética punk cristalizada nas canções rápidas de três acordes.

Esse movimento do grupo e sua predisposição à mistura geraram obras de linguagem intertextual como Sandinista! (1980), cheio de canções de linguagem híbrida. Dentro desse conceito, ao jogar com conotações e construções intersemióticas, o Clash fez oposição inclusive a uma padronização industrial e midiática do “estilo punk”, o que credencia o grupo como um dos mais criativos do rock. Assim, o documentário da BBC é um belo registro desse momento artístico (para conferir clique aqui).

Abaixo outros momentos que ilustram a semiose sonora do Clash:

 

hip hop

 

sandinista

O novo vídeo do Savages: uma ode ao mosh

O álbum de estreia do grupo Savages, Silence Yourself, foi um dos grandes discos de 2013. Meses depois, escaladas para tocar no Lollapalooza São Paulo, Jehnny Beth, Gemma Thompson, Ayşe Hassan e Fay Milton trouxeram a um festival de grande porte a energia dos clubes pequenos da cena punk inglesa de 1977 – vanguarda que, caso voltasse no tempo, a banda poderia perfeitamente integrar, ao lado de Siouxsie and the Banshees, X Ray Spex e The Slits.

Essa energia fora sintetizada no vídeo da canção “The Answer” (confira abaixo), divulgada pelo Savages hoje e que irá integrar o próximo álbum da banda, Adore Life, previsto para 22 de janeiro. As imagens mostram as meninas tocando em uma espécie de galpão abandonado, esteticamente perfeito para uma ocupação musical alternativa, onde moshs são praticamente obrigatórios – ritual que integra o devir anarcopunk.

Musicalmente, a faixa “The Answer” talvez se afaste um pouco da linha pós-punk à qual o Savages geralmente é associado, para experimentar algo mais stoner, que flerta até com os primeiros trabalhos do sueco Hellacopters. O que indica que Adore Life deve ser tão intenso quanto o álbum de estreia da banda, a começar pelo punho cerrado à capa do disco, arte que desde já adorei.

Cult dos Ramones estreava há 36 anos

Os Ramones, ao lado da atriz P. J. Soles, em cena do clássico cult “Rock ‘n’ Roll High School”.

Antes de mais nada, menção ao site da ótima Consequence Of Sound, que recordou nesta semana que o clássico cult Rock ‘n’ Roll High School (1979), produzido por Roger Corman e dirigido por Allan Arkush, e que conta com o lendário grupo punk Ramones no elenco, chegava aos cinemas há exatos 36 anos – o lançamento ocorreu em 24 de agosto de 1979.

A ideia do filme, assim como o estilo musical dos Ramones, era resgatar o espírito dos anos 1950, tempos em que Chuck Berry, Eddie Cochran e Little Richard, entre outros, frequentavam os programas do apresentador Allan Freed. No entanto, a obra não deixa escapar ao roteiro o estilo rebelde que também fazia parte do estilo punk, ao levar ao ambiente escolar o quarteto roqueiro (e incendiário) do Queens.

Com o orçamento baixo, assim como outras produções assinadas por Corman, o filme mostrou ao mundo o estilo de rock que não fazia parte da cultura midiática mainstream da época e, mesmo não alcançando sucesso de bilheteria, foi um importante capítulo na história do punk rock. Na trilha sonora, além de canções dos Ramones, há MC5 (“High School”), Velvet Underground (“Rock & Roll”) e Paul McCartney (“Did We Meet Somewhere Before?”).

A seguir, dois momentos de Rock ‘n’ Roll High School: o trailer que divulgou a obra em 1979, e o vídeo, no qual os Ramones tocam “Do You Wanna Dance?”.

Bikini Kill e o clássico “Revolution Girl Style Now!”

Na década de 1990, mídia e indústria fonográfica se preocupavam em inventar um novo rótulo, o grunge, para classificar as bandas que despontavam em Seattle – termo que musicalmente sequer existiu, uma vez que esses grupos eram totalmente diferentes. Mas em Washington, uma banda chamada Bikini Kill, formada por Kathleen Hanna, Kathi Wilcox, Tobi Vail e Billy Karren, idealizava, de fato, uma cena musical, ao mesclar punk rock com militância feminista e abalar as estruturas da música vigente.

O primeiro trabalho do grupo foi a clássica demo Revolution Girl Style Now! (1991), que neste semestre será relançada em LP, CD e formatos digitais. A faixa “Double Dare Ya”, que integra o disco, pode ser conferida no site da NPR Music, canção que abre com Kathleen soltando o verbo, um marco na cultura pop ao estimular o riot grrrl, movimento musical feminista que defendia o protagonismo das minas e combate ao machismo. Trata-se de um momento icônico. Após esse primeiro EP, o grupo ainda lançou os álbuns Pussy Whipped (1993) e Reject All American (1996), trabalhou com a Joan Jett e influenciou uma série de outras bandas que também seguiram a atitude proposta por Kathleen e companhia.

O Bikini Kill encerrou as atividades em 1997 e a vocalista Kathleen Hanna chegou a montar o grupo new wave Le Tigre (recomendo!) nos anos seguintes. Mas o legado iniciado com Revolution Girl Style Now! ainda reflete no cenário contemporâneo, basta observar bandas como Sleater-Kinney e The Gossip, entre muitas outras.

A Kathleen hoje

Atualmente, a vocalista Kathleen Hanna segue em turnê com sua nova banda, The Julie Ruin, e em 2013 teve sua trajetória narrada no ótimo The Punk Singer, documentário assinado por Sini Anderson e exibido no festival SXSW daquele mesmo ano. O vídeo abaixo mostra performace recente da cantora à frente do Julie Ruin, durante o Pitchfork Music Festival.

Nova onda do punk inglês?

A dupla Slaves, que acaba de lançar o álbum "Are You Satisfied?" (Foto: Facebook/Slaves).
A dupla Slaves, que acaba de lançar o álbum “Are You Satisfied?” (Foto: Facebook/Slaves).

O espírito de um determinado período, ou época, pode não ser revivido efetivamente, mas reinterpretações, por outro lado, geralmente ocorrem – sobretudo na cultura pop. Sabe-se que em diversas áreas esse fenômeno acontece – na moda, no cinema e até na política –, mas como a delimitação deste post está no campo musical, vamos ao que interessa. Quem apostaria que o rockabilly do final dos anos oitenta ganharia nova roupagem nos discos do Stray Cats do genial Brian Setzer? Ou que o funk carioca que rolava nos bailes organizados pelo DJ Marlboro teria desdobramentos em praticamente todos os estados brasileiros?

Algo semelhante ocorre em solo britânico. O lançamento do álbum Are You Satisfied?, da dupla Slaves – que faz um rock basicão e barulhento que remete ao chamado punk 77–, tem sido considerado um resgate sonoro dos tempos de Johnny Rotten e sua turma (Sex Pistols). Em recente entrevista à NME, aliás, o duo formado por Laurie Vincent (guitarra) e Isaac Holman (vocal e bateria) pareceu não se preocupar com as comparações. Entretanto, fora a abordagem musical, ao final do álbum Sugar Coated Bitter Truth Isaac diz: “do you ever feel you’re being cheated?” (você já sentiu que estivesse sendo enganado? – tradução livre), a mesma pergunta irônica que Lydon faz no último show dos Pistols, em 1978. Evidências interessantes.

A comparação faz sentido, embora agarrar-se a ela soe também injusto, considerando que musicalmente Are You Satisfied?, por sua barulheira boa, fale por si. Não à toa, o disco tem recebido elogios de boa parte da crítica especializada em música – indico seriamente a audição de “Cheer Up London”, “Live Like an Animal” e “Sockets”, só para começar (clique aqui e ouça). Voltando ao tema inicial, obviamente não se trata de uma “nova onda punk” na Inglaterra, mas uma atualização, mesmo que sem a real intenção, de um tipo de rock que rendeu bons frutos por lá em outros tempos – da mesma forma que algumas canções do Savages remetem ao som do Joy Division.

O rockabilly dos anos 50 é único, assim como os bailes funk do Rio de Janeiro, entre as décadas de 80 e 90, representaram à época algo inovador na cultura brasileira. Se hoje os tempos são outros, os desdobramentos desses fenômenos refletem na produção atual, à sua maneira, ao seu novo estilo – que certamente agrega outras referências, promovendo novas misturas. O Slaves não é o novo Sex Pistols, nem poderia ser. No entanto, identificar aspectos do lendário grupo inglês no álbum Are You Satisfied?, somados a outras características contemporâneas que o disco propõe, é algo para ser considerado positivo.

Sobre “Louie Louie” e uma recente tristeza

Jack Ely, vocalista do Kingsmen que gravou a lendária “Louie Louie”. (Crédito: Don Ryan/Arquivo/AP Photo)

No início dos anos 60, a ascensão do rock britânico, capitaneada principalmente pelo trio Beatles, Rolling Stones e The Who, fez com que muitas bandas norte-americanas recebessem pouca exposição midiática. A euforia ao redor dos ingleses deixou o garage rock à margem, mas a história tratou de corrigir essa injustiça na década seguinte, pois a primeira leva de bandas punk bebia claramente na fonte dos “bastardos” Count Five, The Sonics e Kingsmen.

O Kingsmen, em especial, gravou a lendária versão para um dos maiores clássicos da era pré-punk roqueira, a canção “Louie Louie” – que recebeu versões de Iggy Pop e The Clash, entre muitas outras. Imortalizada pelo vocalista do Kingsmen, Jack Ely, morto na última semana, aos 71 anos, nota triste deste texto, a música carrega em si uma linguagem de versos indecifráveis, próxima a um estado de embriaguez e cuja rebeldia chamou inclusive a atenção do FBI.

Após uma denúncia sobre supostas “mensagens obscuras” escondidas na letra composta por Richard Berry, o FBI passou a conduzir patéticas investigações, típicas da capacidade cognitiva limitada do conservadorismo. Bizarrices à parte, o que interessa é a construção estética da versão lançada pelo Kingsmen, em 1963, uma verdadeira aula de como elaborar uma grande canção de rock com poucos acordes – ideia que amadureceu depois com o punk.

Nesta semana, a rádio pública NPR publicou uma entrevista feita com o lendário Jack Ely, na qual ele fala sobre o impacto provocado por “Louie Louie” na sociedade à época de seu lançamento (clique aqui e ouça). Sempre que escuto essa canção, penso que ela poderia perfeitamente estar sendo tocada por uma banda de garagem qualquer, com aquela microfonia linda ao fundo. Barulho bom.

Iggy Pop e a tentativa frustrada do mainstream domar o punk

Iggy Pop, à frente dos Stooges no final da década de 60.

A maneira como o mainstream vê a produção cultural, de um modo geral, é basicamente sob o ângulo do lucro. E a tal engrenagem mercantilista procura transformar tudo em “algo vendável”, a mesma coisificação denunciada por Adorno e Horkheimer no célebre texto A Indústria Cultural, publicado na primeira metade do século XX. Isto vale para o cinema, a música, a imprensa e, obviamente, a moda. Entretanto, há artistas que mesmo postos em situações-espetáculo, nos moldes que visam apenas o entretenimento, exibem determinadas atitudes que fogem do controle, simplesmente por produzirem os desconfortos típicos do campo artístico. Como fez Iggy Pop, na última segunda-feira (13), durante o São Paulo Fashion Week.

Mesmo beliscando uma grana para promover o lançamento de uma nova coleção de óculos escuros, o eterno líder do grupo pré-punk Stooges causou certo incômodo no glamouroso evento: Iggy cuspiu em si mesmo e depois ainda quebrou a lente de uma réplica de óculos gigante, símbolo da marca que o trouxe ao Brasil. Nenhuma novidade para um artista que ao final da década de 60 se cortava no palco e passava pasta de amendoim no próprio corpo, mas um susto considerável para o protocolo de um evento engessado como o SPFW – pensa na cara das pessoas ao vê-lo babando no próprio peito.

A passagem de Iggy Pop pelo SPFW (clique aqui e confira) remete a outras tentativas fracassadas nas quais o mainstream tentou “domar o punk”, como os palavrões dos Sex Pistols em rede nacional no Reino Unido, fato que chocou os britânicos em 1976, ou quando o Clash conseguiu convencer a gravadora CBS a comercializar o álbum triplo Sandinista! (1980) pelo preço de um disco simples. Em suma, alguns músicos nem sempre estão dispostos a participar do processo de padronização imposto pela indústria cultural. E há exemplos em todas as vertentes artísticas: na literatura, nas artes plásticas e na música erudita.

O mesmo Iggy Pop, aliás, em recente entrevista concedida ao jornal britânico The Guardian falou, entre outros assuntos, sobre as dificuldades de trabalhar dentro das regras idealizadas pela indústria fonográfica. Vale a pena ler.

Esse é o Sonics, baby!

Quando o grupo norte-americano Sonics tocou os primeiros acordes de “Have Love Will Travel”, um dos grandes hinos do garage rock, durante apresentação da banda em São Paulo, uma garota não se conteve à beira do gargarejo e subiu ao palco. A moça exibia um visual que evocava os anos 60, dançava como as meninas da época e fora contagiada pelo som incendiário dos experientes roqueiros, como se o Audio Club fosse um boteco na cidade de Tacoma, cinco décadas atrás.

Resgatei esse fragmento da minha memória recente, pois o grupo Sonics em breve irá lançar o álbum This Is The Sonics, após quase 50 anos sem um disco de inéditas. O grupo vem preparando terreno para a chegada do novo trabalho com uma série de shows, cuja turnê passou inclusive aqui por São Paulo. Para se ter uma ideia, os caras passaram por Seattle na última semana, e receberam o eterno baixista do Nirvana Krist Novoselic durante a apresentação (clique aqui para ver as fotos).

Destaco a expectativa em torno desse novo álbum porque o Sonics é um dos pilares do que podemos chamar de pré-punk. Na ocasião do show em Sampa, acabei não escrevendo nada a respeito, mas encontrei por lá DJs da cena underground paulistana, bem como integrantes de grupos importantes como Autoramas e Ratos de Porão – entre muitos outros. Não à toa, é possível dizer que Iggy and The Stooges, Ramones e Cramps seguiram os ensinamentos barulhentos desse monumento do rock. Vida longa ao Sonics – e que This Is The Sonics chegue logo ao mercado (haha!).

Abaixo, um trechinho do show do Sonics em São Paulo, no último dia 5 de março.

Resumo musical

Johnny evoca Depeche Mode

Anos 80 em estado puro. O competente Johnny Marr divulgou nesta semana o lançamento de um single durante o já tradicional Record Store Day (data na qual lojas especializadas em discos oferecem promoções especiais). No lado A, Marr evoca o Depeche Mode com uma ótimo versão para a também ótima “I Feel You” (vídeo abaixo). Já o lado B, outra lindeza oriunda dos anos 80: “Please Please Please Let Me Get What I Want” – de seu ex-grupo Smiths. Muito classe!

Mais uma faixa do novo álbum Best Coast. Apenas

O Best Coast prepara o lançamento de seu próximo álbum, California Nights, previsto para chegar às lojas em 4 de maio. Após divulgar a faixa-título do novo trabalho, o grupo liderado pela vocalista Bethany Cosentino mostrou ao público nesta semana a bela “Heaven Sent”, que diferente da canção que dá nome ao disco, soa ensolarada como a Califórnia do Best Coast.

MIA entre tweets e canções

A produção musical híbrida da cantora MIA não é novidade. Tão movente quanto a sonoridade da artista, é a maneira com a qual ela trabalha, sempre inquieta, divulgado suas empreitadas e defendendo posicionamentos políticos nas redes sociais. Na última semana, após divulgar a faixa “All My People”, ela afirmou que mais novidades surgiriam, e não demorou para a cantora postar, na plataforma SoundCloud, a canção “Can See Can Do” – que musicalmente tem um pezinho no nosso funk. Junto com a faixa, ela escreveu o seguinte (em caixa alta mesmo): “DEMOCRACY CONVERSATIONS ! TAMILS ARE STILL WAITING ! AND NO MY BEATS ARE NOT BETTER WITHOUT MY POLITICX”. Ela é demais.

Documentário sobre o Damned estreia no SXSW

Dirigido e produzido por ninguém menos que Lemmy Kilmister (Motörhead), o documentário The Damned: Don’t You Wish That We Were Dead estreia na edição deste ano do festival SXSW – que começa neste final de semana. Trata-se de um belo recorte sobre a trajetória de um dos grupos mais importantes do punk rock britânico: o Damned. Entre os personagens que narram essa história, além obviamente dos integrantes da banda, há depoimentos de nomes como Chrissie Hynde (Pretenders), Mick Jones (The Clash), Steve Diggle (Buzzcocks), Lemmy Kilmister (Motorhead) e Dexter Holland (The Offspring), entre outros. O documentário ainda não tem data de estreia aqui no Brasil.

Savages toca faixa inédita durante show em Nova Iorque

O Savages passou por Nova Iorque em janeiro, mas somente agora, por meio das redes sociais, a gente ficou sabendo que o grupo britânico tocou a inédita “Adore” por lá. Segundo a incrível vocalista Jehnny Beth, trata-se de uma canção sobre “vida e morte”. Repare que o show ocorreu em um lugar pequeno, chamado Mercury Lounge, que facilmente remete aos clubes punk do final dos anos 70.

O olhar de Julien Temple sobre os primeiros passos do Clash

Joe Strummer, durante o primeiro show do Clash no Roxy, em Londres.

Há 40 anos o cineasta Julien Temple resolveu captar imagens de uma apresentação do grupo inglês The Clash, no recém-inaugurado Roxy. O material foi enriquecido por imagens de transmissões televisivas da época, protestos, movimentações da cena reggae londrina – combinação que reúne os ingredientes da receita musical clashiana, que colocou diversos elementos sonoros e culturais em contato com os três acordes tradicionais do punk rock.

Exibido pela BBC no último dia 1º de janeiro, The Clash: New Year’s Day ’77 é um resgate histórico que contextualiza o surgimento do Clash (e do movimento punk inglês) na Inglaterra de 1977 – ano no qual o estilo musical se consolidou na grande mídia. O documentário mostra cenas inéditas do Clash no clube Roxy (ainda sem o baterista Topper Headon), momentos de bastidores e figuras importantes do punk como o vocalista dos Sex Pistols, Johnny Rotten.

O conteúdo do filme assinado por Temple é um registro significativo de um dos momentos mais importantes da cultura pop e que até hoje reflete na música contemporânea. O filme assinado por Temple pode ser conferido na íntegra no YouTube (vídeo abaixo). Notícia boa para começar 2015!

Punk rock chamando: Rancid disponibiliza novo álbum para audição

Os integrantes do Rancid Tim Armstrong e Lars Frederiksen (Foto: Divulgação).
Os integrantes do Rancid Tim Armstrong e Lars
Frederiksen (Foto: Divulgação).

O Rancid é uma das bandas mais legais do cenário punk-californiano-anos90, na humilde opinião deste blogueiro. O grupo traz uma proposta sonora que remete ao cenário britânico do final da década de 70, tem boas influências de ska e ao longo de sua trajetória ganhou inclusive o respeito de gente como Joe Strummer e Joey Ramone (apenas).

O grupo lança no próximo dia 27 de outubro o álbum Honor Is All We Know, produzido pelo guitarrista Brett Gurewitz (Bad Religion) – um dos chefões da gravadora Epitaph, selo pelo qual o novo trabalho do Rancid chega ao mercado.

O novo trabalho foi disponibilizado na íntegra pelo grupo via plataforma YouTubeclique aqui e confira. O som exibe a receita que deu certo em outros trabalhos do Rancid. Vale a pena.

A seguir o track list do álbum:

“Back Where I Belong”

“Raise Your Fist”

“Collision Course”

“Evil’s My Friend”

“Honor Is All We Know”

“A Power Inside”

“In The Streets”

“Face Up”

“Already Dead”

“Diabolical”

“Malfunction”

“Now We’re Through With You”

“Everybody’s Sufferin’”

“Grave Digger”

O último Ramone

O sábado que amanhece cinza dialoga com a triste notícia sobre o falecimento do baterista Tommy Ramone, ocorrido nesta sexta-feira, 11. Tommy era o último integrante da formação clássica do lendário grupo Ramones que ainda estava entre nós (considerando as mortes de Dee Dee, Joey e Johnny), e tenho certeza que este fator é de grande relevância para os fãs do grupo – como, inclusive, é para o autor deste texto.

Com os Ramones, Tommy gravou os álbuns Ramones (1976), Leave home (1977) e Rocket to Russia (1977) – todos obrigatórios em qualquer discografia honesta de rock –, sem contar que o baterista também fazia parte da banda quando os Ramones enlouqueceram e encantaram os ingleses em shows realizados em Londres em 1977. As apresentações foram fundamentais para a consolidação do punk em território britânico, segundo relatos de gente do porte de Joe Strummer (Clash) e Captain Sensible (The Damned).

Uma dessas apresentações, gravada na virada de 1977 para 1978, acabou gerando o álbum ao vivo It’s Alive (1978), outra obra memorável no legado o grupo nova-iorquino. Abaixo você confere a um trecho do documentário sobre as apresentações dos Ramones na Inglaterra, e em seguida ao show que deu origem ao importante It’s Alive. Valeu, Tommy.

 

 

O dia em que Chuck Berry analisou o punk rock

 

Uma das grandes virtudes do Facebook (e das redes sociais, de maneira geral) é que por meio dele às vezes temos acesso a informações que dificilmente teríamos em outros ambientes digitais. Pois bem, na última semana, enquanto gastava minutos ociosos visualizando a tal rede, eis que observo um link postado por uma amiga, que trazia um post do blog Music Ruined My Life, cujo texto resgatava uma entrevista concedida por Chuck Berry a um fanzine punk chamado Jet Lag!, em 1980.

A genial pauta – deixo aqui meus parabéns ao autor (ou autora) do texto – sugeria que o lendário guitarrista, e um dos precursores do rock, fizesse uma análise de algumas faixas de bandas clássicas de punk rock. Na relação de grupos a serem analisados por Chuck Berry estava a tríade máxima do punk: The Clash, Sex Pistols e Ramones – pelo menos entre os grupos surgidos após 1975, estes são os mais relevantes.

É impagável ler comentários de um artista cujos riffs de guitarra estão presentes em grande parte das composições punk, principalmente nos primeiros trabalhos dos grupos surgidos no chamado “punk 77”. Mesmo que o movimento punk tenha proposto um rompimento com o rock mainstream (à época o heavy metal e o rock progressivo), ele sempre fez uma alusão direta a uma volta ao básico, em outras palavras ao rock dos anos de 1950.

Abaixo você confere as duas páginas da matéria, que traz também uma entrevista na qual o lendário roqueiro fala sobre sua carreira. Repare que, durante a audição das faixas, ele tece elogios à sonoridade dos Pistols e do Clash, mas estranha a raiva dos vocais (haha). Já o contato com o som do Joy Division, outra banda analisada, faz Berry dizer: “souds like an old blues jam”. Uma entrevista deste porte eu não poderia deixar de compartilhar aqui no blog.