Hilly Kristal pode ser considerado um visionário ao abrir as portas de seu modesto CBGB para artistas como Television, Patti Smith e Blondie, no final da década de 1970. O proprietário do inferninho decidira diversificar, até porque as rádios tocavam à exaustão Led Zeppelin, Black Sabbath e uma penca de bandas de rock progressivo naquela época. Na oportunidade, quatro rapazes fãs de Stooges e MC5 também fizeram sua estreia, o grupo se chamava Ramones.
Claro que não podemos esquecer que os Ramones admiravam as bandas da chamada invasão britânica (Beatles, Stones e Who), mas sua principal fonte foi o pré-punk de Iggy Pop e seus capangas de Detroit, com forte presença do garage rock do início dos anos 1960. Essa celebração estética do rock básico, de poucos acordes e muita energia, delimitou uma ideia de som que influenciou uma série de outras bandas.
Tal impacto reflete diretamente no punk inglês, não à toa os dois shows (1976 e 1977) dos Ramones na Inglaterra desempenharam papel importante na consolidação do punk por lá, embora sua versão britânica tenha se tornado um movimento mais amplo e combativo – que não priorizava apenas a música, mas uma política artística (o NY Times publicou um belo texto sobre o tema nesta semana).
No CBGB, o Ramones tocou entre 16 de agosto de 1974 até fevereiro de 1976, e certamente o local está para o grupo punk como o Cavern Club está para os Beatles ou o Marquee para os Stones. O primeiro show dos Ramones não se reduz a um mero início de trajetória, mas é toda a compreensão do rock undergound que surgiu nos anos seguintes.