Os leitores do blog Cultura no Prato sabem muito bem que em período de final de ano publicamos sempre nossas tradicionais listinhas de “Melhores do Ano”. Isso não quer dizer, em hipótese alguma, que os álbuns a seguir, de fato, são os melhores, mas apenas consideramos o conteúdo das obras abaixo bastante significativo para a cena musical brasileira. Sendo assim, trata-se de um recorte singelo das cinco produções musicais que mais despertaram a atenção deste que vos escreve semanalmente por aqui. E, claro, é sempre bom ressaltar que muita coisa boa foi produzida no Brasil – e jamais seria possível resumir tanta coisa interessante em um simples texto. Vamos aos discos.
“Holger” – Holger
Começamos pela banda paulistana Holger, que lançou neste ano o álbum homônimo que reforça a ideia de um indie rock que agrega muitos elementos da música brasileira. Basta ouvir a percussão da belíssima “Café Preto”, entre arranjos cheios de fraseados de guitarra, para se ter uma noção da boa mistura feita pelo grupo. Holger é o quarto disco de estúdio dos caras, e certamente o mais maduro musicalmente.
“Nheengatu” – Titãs
É sempre importante celebrar grandes retornos. E o álbum “Nheengatu”, lançado pelos Titãs – ícones do nosso rock brasileiro – é um trabalho no qual os roqueiros resgatam tanto as letras politizadas como também a sonoridade pesada que marcou os primeiros trabalhos do grupo, lá nos anos 80. Destaco aqui “República dos Bananas”, cuja letra é uma reflexão bastante contemporânea: precisamos compreender, em primeiro lugar, nossas características de seres humanos errantes.
“Convoque Seu Buda” – Criolo
Foi uma enorme responsa para o rapper Criolo lançar um álbum após o elogiado Nó na Orelha (2011). Até porque o artista é sempre cobrado a manter a aura de seus trabalhos. Em Convoque Seu Buda, Criolo mostra que continua sendo um ótimo letrista, e um músico preocupado em experimentar ao estilo de um exímio vanguardista. À poética dos versos somam-se instrumentos de sopro e hibridismos como na ótima “Casa de Papelão”.
“Rock’n’Roll Sugar Darlin” – Thiago Pethit
O roqueiro Thiago Pethit é uma renovação do rock nacional. Diferente do termo batido “salvação do rock”, o músico representa sim a geração que emerge da cena underground, ao elaborar um belíssimo disco, Rock’n’Roll Sugar Darlin. Trata-se de uma vigorosa celebração do rock, enriquecida por elementos contemporâneos de composição – como recursos eletrônicos. Mas o rock está lá: de Cramps a Iggy Pop.
“Cores e Valores” – Racionais MC’s
A saga do grupo de rap mais importante do Brasil ganha novas páginas com a chegada do álbum Cores e Valores. À primeira audição, é possível notar que as canções estão mais curtas e que a coesão das ideias nunca esteve tão afinada entre os integrantes do Racionais MC’s. Batidas pesadas e ótimas rimas, capazes de traduzir o Brasil que muitos não enxergam, cujo lado esquecido ganha narrativas ao ser observado por artistas que criam letras a partir de fragmentos do cotidiano. Em “Quanto Vale o Show”, Mano Brown resgata lembranças da infância, enquanto paralelamente aos versos ecoa o sample de “Gonna Fly Now” (Bill Conti), trilha do filme Rocky (1976). Afinal, a vida é uma luta.