Ramones no clube underground do rock

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Hilly Kristal pode ser considerado um visionário ao abrir as portas de seu modesto CBGB para artistas como Television, Patti Smith e Blondie, no final da década de 1970. O proprietário do inferninho decidira diversificar, até porque as rádios tocavam à exaustão Led Zeppelin, Black Sabbath e uma penca de bandas de rock progressivo naquela época. Na oportunidade, quatro rapazes fãs de Stooges e MC5 também fizeram sua estreia, o grupo se chamava Ramones.

Claro que não podemos esquecer que os Ramones admiravam as bandas da chamada invasão britânica (Beatles, Stones e Who), mas sua principal fonte foi o pré-punk de Iggy Pop e seus capangas de Detroit, com forte presença do garage rock do início dos anos 1960. Essa celebração estética do rock básico, de poucos acordes e muita energia, delimitou uma ideia de som que influenciou uma série de outras bandas.

Tal impacto reflete diretamente no punk inglês, não à toa os dois shows (1976 e 1977) dos Ramones na Inglaterra desempenharam papel importante na consolidação do punk por lá, embora sua versão britânica tenha se tornado um movimento mais amplo e combativo – que não priorizava apenas a música, mas uma política artística (o NY Times publicou um belo texto sobre o tema nesta semana).

No CBGB, o Ramones tocou entre 16 de agosto de 1974 até fevereiro de 1976, e certamente o local está para o grupo punk como o Cavern Club está para os Beatles ou o Marquee para os Stones. O primeiro show dos Ramones não se reduz a um mero início de trajetória, mas é toda a compreensão do rock undergound que surgiu nos anos seguintes.

 

“Nós Somos as Melhores!” evoca temática do punk 77

O longa sueco Nós Somos as Melhores! (Vi är bäst!) estreou em São Paulo no último dia 20 (quinta-feira). O filme é uma adaptação da graphic novel Never Goodnight, da artista Coco Moodysson, e narra a história de três garotas suecas que decidem montar uma banda punk. Nesta semana escrevi a resenha sobre o filme no blog do jornal Ponto Final, e replico o texto agora neste blog. Recomendo o filme e a trilha sonora, que resgata nomes da cena punk da Suécia, como Ebba Grön, entre outras preciosidades.

Três acordes e espírito jovem 

“Nós Somos as Melhores” evoca aspectos do movimento punk ao abordar a trajetória de uma banda formada por três meninas de Estocolmo

Uma das lições do punk rock que surgiu ao final dos anos setenta, nos Estados Unidos e Inglaterra – principais berços do movimento –, foi mostrar que qualquer um era capaz de montar sua banda. O destaque ao ano de 1977, para ser mais preciso, recorta o momento no qual muitos jovens assimilaram a efervescência musical (e marginal) de um período como caminho a seguir, cujas bandas estampavam capas de fanzines amalucados que circulavam no cenário underground.

A juventude dessa época descobriu que para fazer parte de um grupo de rock não era preciso tocar bem os instrumentos, falar com a imprensa, ser popular no colégio e usar roupas da moda. No punk rock tais regras não importavam. Quando as amigas Bobo, Klara e Hedvig, na pré-adolescência de seus 12 anos, questionam alguns conceitos estabelecidos para montar uma banda, o filme Nós Somos as Melhores! (Vi är bäst!) reconfigura os ideais do chamado “punk 77” na realidade de três meninas de Estocolmo.

Dirigido por Lukas Moodysson, o longa é uma adaptação da história em quadrinhos Never Goodnight, da artista Coco Moodysson – casada com o diretor. Na temática proposta pelo roteiro, há clara ligação entre elementos do turbulento universo adolescente e o caótico movimento punk, que fazia oposição à cultura mainstream. Entre um “bandejão” e outro no refeitório do colégio, as meninas falam sobre a caretice dos pais e a possibilidade de um acidente nuclear.

Punk-fofura

Elementos romantizados da rebeldia que marcou a fase inicial do punk são evocados nas histórias protagonizadas pelas garotas. Bobo e Klara não sabem tocar, mas mesmo assim tentam, desafinam e fazem barulho. Durante a aula de educação física, o desentendimento com o professor abre caminho para o surgimento da primeira canção, de refrão direto e sem rodeios, “odeio esportes, odeio esportes”. Eis outra sacada que dialoga com o punk: para compor não é preciso arrebatamento filosófico, pois as letras geralmente são recortes do cotidiano da molecada.

Hedvig é a única com formação musical, é descoberta pelas colegas durante o festival de artes do colégio, após apresentar um tema erudito ao violão. Bobo e Klara têm opiniões divergentes sobre a nova integrante, de formação cristã e cabelos longos, visual que destoava do curtinho-espetado do punk. Os diálogos e defesas de opinião são divertidíssimos, e mostram também como as questões ideológicas e políticas da banda têm relevância para as meninas.

Em meio a essa pulsação de energia, há também espaço para momentos de fofura contagiante. Elas brigam e em seguida se abraçam, compartilham conselhos, (quase) morrem de amor ao escutar as bandas que admiram e defendem com veemência que o punk não morreu. No primeiro show do grupo, sob uma chuva de xingamentos, as garotas respondem à hostilidade da plateia com provocações ao melhor estilo Sid Vicious. Ou seja, são punks e fofas com a mesma intensidade.

As trajetórias de Bobo, Klara e Hedvig remetem a uma porção de outras histórias de bandas, conhecidas ou à margem da fama. Vale lembrar, que quebrar regras não é aspecto exclusivo do movimento punk, a arte em si por diversas vezes exibiu doses de rebeldia – em especial os dadaístas. Contudo, Nós Somos as Melhores! joga luz sobre um momento significativo de desconstrução artística, no qual grupos emergiram de porões e garagens, ao som de três acordes e letras carregadas de espírito jovem, para descomplicar o rock.

Nós Somos as Melhores!

Direção: Lukas Moodysson.

Espaço Itaú de Cinemas – Unidade Augusta.

Sala 3 (14h – 16h – 18h – 20h – 22h).

Confira o trailer do filme: 

De Hank Williams a Daft Punk, as próximas cinebiografias

O ator Tom Hiddleston (na imagem acima, à esquerda) prepara as cordas vocais para interpretar no cinema um dos músicos que mais influenciou Bob Dylan, a lenda folk Hank Williams. O longa I Saw The Light, previsto para ser lançado em meados de 2015, é uma adaptação da biografia assinada por Colin Escott, sobre o cantor norte-americano.

Hank Williams pertence ao rol de artistas que tiveram ascensões meteóricas, vidas conturbadas e morte precoce – Hank faleceu aos 29 anos, vítima de um ataque cardíaco. Segundo o site da Consequence Of Sound, além dos trabalhos na gravação do novo filme, Hiddleston tem ensaiado canções de Hank Williams para uma (suposta) apresentação no Wheatland Music Festival, que ocorre nos dias 27 e 28 de setembro em Michigan.

Geração de ouro da música pop-eletrônica francesa

Não é todo dia que uma cena musical revela, de uma só vez, nomes como Daft Punk, Cassius e Air. A Paris desses artistas dialoga com a corrente criativa que banhou o Recife do manguebeat, ou a Londres do punk, cada qual com a sua importância histórica, e seus respectivos porta-vozes.

Previsto para chegar às salas de cinema em novembro deste ano, o filme Eden (confira o trailer ao final deste texto) vai narrar como surgiu a cena musical de Paris, nos anos 90, quando o DJ Sven Løve tocava em festas underground, nas quais circulavam também Thomas Bangalter e Guy de Homem-Christo (Daft Punk).

Quem assina a direção é Mia-Hansen Løve, irmã de Løve. Para o teórico Will Straw, as cenas musicais têm a capacidade de “desembaraçar fenômenos dos mais fixos” e, no caso cenário musical parisiense dos anos 90, as canções foram capazes de ir dos clubes mais alternativos (e sujos) às festinhas universitárias da classe média.

Após participar de festivais internacionais, “Boa Sorte, Meu Amor” estreia em São Paulo

Cena do filme "Boa Sorte, Meu Amor", que estreia em São Paulo no próximo dia 27 de agosto. (Foto: Divulgação).
Cena do filme “Boa Sorte, Meu Amor”, que estreia em São Paulo no próximo dia 27 de agosto. (Foto: Divulgação).

Foi uma longa jornada, aproximadamente 20 festivais ao redor do mundo – como o 41˚ Fesival du Nouveau Cinéma (Montreal, Canadá), a 36ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e o 5º Hollywood Brazilian Festival, entre outros –, antes da produção pernambucana Boa Sorte, Meu Amor chegar ao circuito comercial de São Paulo.

Com a direção e roteiro assinados por Daniel Aragão, o longa narra o encontro da estudante de piano Maria (Christina Ubach) com o funcionário de uma empresa de demolição, Dirceu (Vinicius Zinn). Ao percorrer o passado e o presente dos personagens, a história é ambientada no Recife, em meio às transformações locais que afetam a vida dos moradores.

“É um filme que também traz essa reflexão sobre o que acontece com a cidade. É a história de uma mulher que sai de uma clínica de reabilitação de drogas e tenta retornar à sociedade pernambucana”, explica o diretor Daniel Aragão. Em São Paulo, Boa Sorte, Meu Amor (confira o trailer abaixo) será exibido no Cinemark Santa Cruz (Cinecult), nos dias 27 e 29 de agosto, e também em 3 e 5 de setembro.

De Nova Iorque para o mundo: CBGB terá sua história narrada em filme

 

O CBGB está entre os lendários inferninhos de rock, ao lado de lugares como Marquee e Cavern Club, entre outros. O espaço underground que ficou conhecido como ‘berço do punk rock norte-americano’, por receber artistas como Ramones, Blondie e Iggy Pop, agora terá sua rica história narrada nos cinemas – conforme o Cultura no Pratohavia divulgado em 2012.

O primeiro trailer (vídeo acima) do filme sobre o CBGB foi divulgado na última semana, no site do The Hollywood Reporter. Além de trazer as lendas do rock que se apresentaram no local, a história será centralizada na vida do proprietário do espaço, o hippie Hilly Kristal (Alan Rickman). Outro destaque é o icônico Iggy Pop, interpretado pelo baterista do Foo Fighters, Taylor Hawkins.

Uma espécie de inspiração para os clubinhos que pipocaram no Baixo Augusta no início dos anos 2000, o CBGB é uma prova de que lugares pequenos são capazes de estabelecer uma relação artista-pública única – clima que certamente não existe em grandes shows. A estreia está prevista para 11 de outubro nos Estados Unidos (no Brasil ele deve chegar alguns meses depois). Trata-se de um filme imperdível para os fãs de rock.  

A seguir você confere a trilha sonora que vai embalar o filme:

“Life During Wartime” – Talking Heads

“Kick Out the Jams” (versão explícita) – MC5

“Chatterbo”” – New York Dolls

“Careful” – Television

“Blank Generation” – Richard Hell and the Voidoids

“Slow Death” – Flamin’ Groovies

“I Can’t Stand It” – The Velvet Underground

“Out of Control” – Wayne County and the Electric Chairs

“Psychotic Reactio”” – The Count Five

“All For the Love of Rock ‘n’ Roll” (ao vivo) – Tuff Darts

“All By Myself” – Johnny Thunders and the Heartbreakers

“California Sun” (demo original) – The Dictators

“Caught With the Meat in Your Mouth” – Dead Boys

“I Got Knocked Down (But I’ll Get Up)” – Joey Ramone

“Get Outta My Way” – The Laughing Dogs

“Sunday Girl” (Versão de 2013) – Blondie

“I”Wanna Be Your Dog” – The Stooges

“Sonic Reducer” – Dead Boys

“Roxanne” – The Police

“Birds and the Bees” – Hilly Kristal

Livro da semana

O glamour (e a luxúria) de 1920

 

O escritor Francis Scott Fitzgerald relatou a década de 1920 no clássico O Grande Gatsby, baseado na rotina dos ricos norte-americanos, durante o período da Lei Seca. Por trás da moralidade, existia uma vida de luxúria e glamour, onde intrigas e paixões proibidas estimulavam mentiras, traições e morte. A obra está entre as melhores novelas do século XX.

A narrativa aborda a história do escritor Nick Carraway, que deseja ser rico e poderoso. Ao se mudar para Long Island, ao lado da prima Daisy Buchanan, as novas amizades levam a dupla a conhecer o misterioso Jay Gatsby – “o grande Gastby”. O anfitrião logo introduz os recém-chegados aos bastidores da vida dos mais abastados.

O clássico de Fitzgerald acaba de ganhar uma reedição, lançada pela LeYa, que antecede a estreia da nova adaptação cinematográfica da obra, dirigida por Baz Luhrman (Moulin Rouge – Amor em Vermelho e Romeu & Julieta). O elenco conta com Leonardo Di Caprio, Carey Mulligan e Tobey Maguire. A produção de 150 milhões de dólares – com direito a trilha sonora organizada pelo rapper Jay-Z – chega aos cinemas brasileiros em 7 de junho.

 

 

Serviço:

O Grande Gatsby

Autor: F. Scott Fitzgerald.

Editora: LeYa.

Páginas: 176.

Preço: 29,90.

‘Only God Forgives’: entre o inferno de Cannes e o céu do Guardian

O cartaz da participação do filme Only God Forgives no Festival de Cannes 2013.
O cartaz da participação do filme “Only God Forgives” no Festival de Cannes 2013.

 

O diretor Winding Refn chegou ao Festival de Cannes deste ano com o sucesso adquirido em 2011 na bagagem. À época, foi ovacionado pelo público após a exibição do ótimo Drive, filme que lhe rendeu o prêmio de Melhor Diretor.

A aposta para 2013 foi o longa Only God Forgives, que traz o mesmo Ryan Gosling de Drive, no papel principal, e a mesmo a fórmula de suspense-violência. Mas, as vaias recebidas pelo filme na primeira apresentação ao público, ocorrida na última quarta-feira (22), em Cannes, deixaram no ar o sentimento de frustração. O que não significa que o novo trabalho de Refn seja ruim – muito pelo contrário.

No mesmo dia, o site do jornal britânico The Guardian destacava o filme Only God Forgives em sua página inicial. O texto assinado pelo crítico Peter Bradshaw rendeu ao longa uma avaliação cinco estrelas (cinco estrelas!). Melhor redenção impossível.

De uma maneira geral, as críticas, que vão do Guardian à revista Variey, analisam o filme como ultraviolento, vingativo e com um roteiro baseado nos grandes thrillers do cinema – com menção aos corredores estreitos da cena final de Taxi Driver.

A narrativa é ambientada no underground de Bangcoc, Tailândia, onde os irmãos Julian (Gosling) e Billy (Tom Burke) são donos de um ringue de boxe tailandês, que esconde uma organização de tráfico de drogas. Quando Billy é morto, Julian é obrigado pela mãe Crystal (Kristin Scott-Thomas) a vingar o irmão. No entanto, eles se deparam com Chang (Vithaya Panringarm), um policial veterano que tem o costume de decepar suas vítimas com uma espada.

Only God Forgives chega aos cinemas europeus e norte-americanos no final de maio. No Brasil, o filme deve ser lançado com atraso, por conta de problemas de distribuição – os mesmo que ocorreram com Drive. A seguir você confere o trailer oficial, de poucas falas, mas muito suspense.

 

Cinemateca exibe documentário sobre cena punk de São Paulo

O filme “Viva Viva” aborda a trajetória dos punks de São Paulo (Foto: Divulgação).
O filme “Viva Viva” aborda a trajetória dos punks de São Paulo (Foto: Divulgação).

 

Londres e Nova Iorque viveram, simultaneamente, a efervescência do cenário artístico underground no final da década de 70. À época, muitos dos jovens que circulavam nessas cidades formaram grupos de rock e deram início ao punk, entre eles Ramones, Sex Pistols, Clash e Dead Boys.

Em São Paulo, o movimento surgiu no início dos anos 80, quando jovens da periferia da cidade formaram bandas para cantar sobre a desigualdade social e os efeitos do capitalismo. Alguns dos protagonistas da cena punk, como Ariel, da banda Restos de Nada, e Redson, vocalista e guitarrista do grupo Cólera, narram parte dessa história no documentário Viva Viva (2013), de Carolina Pfister.

O filme vai ser exibido pela primeira vez no Brasil no próximo domingo (21), às 18h, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. O trabalho foi premiado na última edição do JamFest Indie Film Festival, nos Estados Unidos, participou do CIMMfest – Chicago International Movies & Music Festival e também será apresentado em maio, no festival IN-Edit Brasil 2013.

A sessão de lançamento que chega à Cinemateca contará com a presença da diretora Carolina Pfister e parte da equipe que trabalhou no filme. Após a exibição, o público poderá participar de uma conversa com os idealizadores do projeto.

 

Serviço:

Viva Viva

Cinemateca Brasileira

Dia 21 de abril, às 18h (exibição e debate).

Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Mariana (SP).

Informações: 3512-6111 ou www.cinemateca.gov.br.

Ingressos: R$ 8,00 (inteira)/R$ 4,00 (meia-entrada).

Maratona shakespeariana

Cena da peça “Antônio e Cleópatra”, que integra a maratona de espetáculos “Fragmentos de William Shakespeare” (Foto: Divulgação).
Cena da peça “Antônio e Cleópatra”, que integra a maratona de espetáculos “Fragmentos de William Shakespeare” (Foto: Divulgação).

 

O mundo das artes celebra o nascimento do dramaturgo inglês William Shakespeare em 23 de abril de 1564. Considerado um dos maiores escritores de todos os tempos, Shakespeare escreveu peças que exploram a complexidade da alma humana, levadas ao teatro inúmeras vezes, mas que jamais perderem o poder de nos causar empatia.

Para comemorar o aniversário do escritor, a maratona de peças Fragmentos de William Shakespeare leva ao Teatro Next, nos dias 16, às 16h, e 23 de março, às 18h, sete peças que integram o legado shakespeariano. Entre os destaques estão obras obrigatórias na literatura universal como “Hamlet”, “Romeu e Julieta” e “Antônio e Cleópatra”, textos que ganharam adaptações no teatro e também no cinema.

Preste atenção nos conflitos provocados pelos amores proibidos em Romeu e Julieta e “Antônio e Cleópatra”. Já o clássico texto de “Hamlet” aborda as amarguras que envolvem um ato de vingança.

Serviço:

Fragmentos de William Shakespeare

Direção: Lilian Luchesi.

Iluminação: Ivan Fagundes.

Figurinos: Fernanda Emediato e Bugs Arts Produções.

Cenografia: Fernanda Emediato.

Local: Teatro Next. Rua Rego Freitas, 454, República – São Paulo.

Preço: R$ 17 (não aceita cartões).

Sedentos por zumbis

Seres humanos lutam pela sobrevivência em um mundo dominado por zumbis, na terceira temporada da série ‘The Walking Dead’ (Foto: Divulgação)
Seres humanos lutam pela sobrevivência em um mundo dominado por zumbis, na terceira temporada da série ‘The Walking Dead’ (Foto: Divulgação)

A sede do ser humano pelo universo dos zumbis nunca esteve tão aguçada. Uma breve análise sobre o sucesso da série The Walking Dead, que chega à sua terceira temporada na TV fechada e recentemente passou também a ser exibida pela TV aberta, mostra que a temática que gira em torno de um eventual ‘apocalipse zumbi’ fascina as pessoas.

Antes de invadir os lares pela televisão, The Walking Dead era uma famosa graphic novel (história em quadrinhos) norte-americana.  O mesmo fato ocorre com o recém-lançado Meu Namorado é Um Zumbi (Warm Bodies), adaptação cinematográfica para o livro de Isaac Marion, que estreou nos cinemas no último dia 8 de fevereiro.

Os zumbis também amam (e ouvem Bob Dylan)

A comédia-terror-romance narra a história de R (Nicholas Hoult), zumbi que faz amizade com uma garota (Teresa Palmer) integrante de um grupo de sobreviventes. Embora a abordagem pareça absurda, a rotina cômica vivida por R proporciona boas risadas ao público, e o roteiro não esbarra em cenas românticas grudentas. Vale o ingresso.

Ao trazer um zumbi capaz de colecionar discos de vinil e ter seus momentos de reflexão ao som de Bob Dylan e Guns N’ Roses, Meu Namorado é Um Zumbi lança um novo olhar sobre o tema mortos-vivos, cada vez mais forte na cultura pop de hoje. Os vampiros estão perdendo espaço (haha).

Do faroeste à escravidão, “Django Livre” é o novo acerto de Tarantino

Django (Jamie Foxx) e seu parceiro Dr. Schultz (Christoph Waltz), no recém-lançado “Django Livre”.
Django (Jamie Foxx) e seu parceiro Dr. Schultz (Christoph Waltz), no recém-lançado “Django Livre”. (Foto: Divulgação)

 

O cineasta Quentin Tarantino sempre deixou claro que em seu legado ainda existiam duas temáticas a serem abordadas: western (“filmes de faroeste”,) e escravidão. No recém-lançado Django Livre (Django Unchained), que chegou aos cinemas brasileiros na última sexta-feira (18), o diretor alcançou sua meta. E concebeu outro belíssimo filme.  

O longa explora a humilhação sofrida pelos negros nos tempos de escravidão – antes da Guerra Civil Americana – e traz como protagonista o escravo Django (Jamie Foxx), herói negro que emerge em um espaço geralmente ocupado por cowboys brancos. A narrativa começa quando Django tem sua liberdade decretada pelo bravo Dr. Schultz (Christoph Waltz), um caçador de recompensas que precisa da ajuda do ex-escravo para encontrar suas próximas vítimas.

A parceria entre Django e Schultz dá tão certo que eles decidem trabalhar em dupla. Comovido pela vontade do ex-escravo encontrar sua esposa (Kerry Williams), Schultz resolve ajudar Django a tirar sua amada das garras do fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), famoso por organizar lutas mortais entre escravos movidas pelas apostas feitas entre seus proprietários.

A maestria de Tarantino na direção fica evidente nos closes, promovidos por rápidos efeitos de zoom, que destacam o olhar dos personagens durante as cenas mais tensas. Já o roteiro oferece ao público momentos extremamente cômicos, como a discussão entre membros de uma espécie de pré-ku klux klan por conta dos buracos feitos em suas máscaras. Há também trechos extremamente devastadores, como a luta corporal entre dois escravos, obrigados a lutar entre si, e a sentença de morte cujo castigo é ser devorado por cães assassinos.

Django Livre, assim como outros trabalhos assinados por Tarantino, alterna cenas de violência bruta e comédia, com diálogos muito bem construídos e inteligentes. Impossível também não destacar a trilha sonora, fruto de uma pesquisa que fez o cineasta resgatar preciosidades folk, soul e hip-hop (confira uma das faixas no vídeo abaixo), que enriquecem demais as imagens.

O elenco é outra grande cartada de Tarantino em Django Livre. Jamie Foxx parece à vontade como protagonista da história, enquanto Leonardo DiCaprio e Samuel El Jackson dão vida a figuras vibrantes, que chegam a emanar prazer em seus atos de maldade.

Contudo, destaque mesmo é a incrível performance de Christoph Waltz, vencedor do prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, no Globo de Ouro deste ano, e que deve faturar o segundo Oscar de sua carreira na mesma categoria, na edição deste ano da premiação. Não há dúvida de que Django Livre já faz parte do seleto rol de clássicos assinados por Quentin Tarantino.

Aquecimento “Django Livre”: MIS recebe programação sobre Quentin Tarantino

 

O aguardado Django Livre (Django Unchained), novo trabalho assinado pelo cineasta Quentin Tarantino, chega aos cinemas brasileiros em 18 de janeiro. A narrativa aborda a trajetória de um escravo negro (Jamie Foxx) libertado por um caçador de recompensas (Christoph Waltz). A dupla parte em busca da esposa do recém-liberto (Kerry Williams), escravizada pelo fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).

O western – com fortes referências dos westerns spaghetti e trilha sonora especial – que resgata a situação dos escravos nos Estados Unidos não nasceu à toa, mas é fruto de uma intensa relação com o cinema, vivida por Tarantino, que agrega diversas influências. Visando promover uma espécie de ‘aquecimento’ para a estreia de Django Livre e também para celebrar os vinte anos do clássico Cães de aluguel, o Museu da Imagem e do Som (MIS) preparou uma programação especial que irá abordar o cinema de Quentin Tarantino.

A “Mostra Tarantino”, que ocorrerá entre 15 e 20 de janeiro, vai reunir uma seleção de filmes que influenciaram o estilo do diretor. Obras como Fuga de Nova York (1981), de John Carpenter; O Grande Golpe (1956), de Stanley Kubrick; Ajuste final (1990), dos irmãos Joel e Ethan Coen e Yojimbo (1961), de Akira Kurosawa, estão entre os destaques da programação.  

Para completar a abordagem sobre o universo de Tarantino, o crítico de cinema Marcelo Lyra ministra o curso “O cinema pós-moderno de Quentin Tarantino”, entre os dias 15 e 18 de janeiro, sempre das 9h às 12h, que irá explorar o estilo do diretor, analisando a estrutura dos roteiros e a maneira de filmar, fatores essenciais para uma melhor compreensão sobre os trabalhos do diretor.

Conferir a programação do MIS, antes da estreia de Django Livre, pode despertar um olhar diferente (e amplo) sobre o novo trabalho de um dos diretores mais autorais do cinema contemporâneo.  

 

Serviço:

Mostra Tarantino

De 15 a 20 de janeiro de 2013.

Auditório MIS (173 lugares) e Auditório LABMIS (66 lugares).

Ingresso: R$ 4 (inteira), R$ 2 (meia). 

Curso: O cinema pós-moderno de Quentin Tarantino, com Marcelo Lyra.

De 15 a 18 de janeiro, das 9h às 12h, no Auditório LABMIS (66 lugares).

Preço: R$ 50,00. Inscrições pelo site www.mis-sp.org.br (60 vagas).

Museu da Imagem e do Som – MIS.

Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo.

Black Keys e RZA participam de pancadaria… E da trilha sonora de “The Man with the Iron Fists”

 

A dupla Black Keys, atração do festival Lollapalooza 2013, protagonizou outra cena de pancadaria. No entanto, em vez de brigarem entre si, como no vídeo de “Tighten Up”, o duo uniu forças para encarar o rapper RZA. A canção “The Baddest Man Alive”, parceria (treta) entre os roqueiros e o idealizador do Wu-Tang Clan, irá integrar a trilha sonora do filme The Man with the Iron Fists, com estreia prevista para 2 de novembro.

The Man with the Iron Fists marca outra empreitada no cinema do rapper RZA – alguém se lembra de Sobre Café e Cigarros? – que, além de assinar o roteiro em parceria com Eli Roth (O Albergue), também dirigiu e atuou.  A narrativa é baseada em clássicos das artes marciais e aborda a história de um ferreiro que precisa defender um vilarejo chinês de perigosos vilões.  

Outro detalhe importante, é que a produção ficou por conta de Quentin Tarantino. A trilha sonora completa está disponível para audição aqui.

Um momento com milhares de histórias

 

É como se a gente pudesse fechar os olhos e observar, simultaneamente, momentos na vida de pessoas que moram em diferentes partes do planeta e notar suas divergências culturais, medos e sonhos. Esta é a sensação que as imagens do filme A Vida Em Um Dia (confira o trailer abaixo) proporcionam. O longa, dirigido por Kevin Macdonald, tem estreia prevista para o próximo dia 20 de abril (sexta-feira).

A ideia surgiu por meio da parceria entre a produtora Scott Free Productions, dos irmãos Ridley e Tony Scott e a rede social Youtube. Ridley, aliás, é responsável por assinar a direção de filmes como Blade Runner – O Caçador de Andróides.

No dia 24 do julho de 2010, milhares de pessoas fizeram seus próprios vídeos, repletos de momentos rotineiros, nos quais a simplicidade esconde ricas histórias, capazes de traduzir como é estar vivo nos dias de hoje. Cada frase, gesto e expressão facial traduz um sentimento diferente. Ao todo, a produção do filme recebeu 80.000 gravações, que contabilizaram mais de 4.500 horas.

A Vida Em Um Dia é uma experiência semelhante a uma grande reportagem. No entanto, é como se o repórter elaborasse apenas uma simples – e superficial – pergunta para atingir seu objetivo: conte um pouco você e sua rotina?  

 

O jornalista e suas garrafas de rum

 

Acordar de ressaca em uma manhã ensolarada no País caribenho Porto Rico, é apenas uma das cenas vividas pelo jornalista alcoólatra, Paul Kemp. O protagonista boêmio do filme Diário de um Jornalista Bêbado – inspirado na ficção escrita por Hunter Thompson, Rum: diário de um jornalista bêbado (The Rum Diary) – é interpretado por Johnny Depp. O mesmo ator que viveu o alter ego do escritor, na adaptação para os cinemas do livro Medo e Delírio em Las Vegas (Fear and Loathing in Las Vegas).

Hunter Thompson é considerado uma das lendas do revolucionário jornalismo gonzo, estilo no qual o repórter vive a ação e narra sua experiência, abandonando qualquer tipo de distância ou isenção do fato. Nesta obra o escritor traz algumas caracteríticas autobiográficas, mas grande parte do conteúdo é fictício.

A narrativa está ambientada nos anos 60, quando Paul Kemp viaja a San Juan, para trabalhar no jornal Daily News. No entanto, o jornalista passa a viver uma rotina regada a rum e alucinógenos. Para quem jamais leu os livros de Thompson, o filme (previsto para ser lançado em abril) é uma boa oportunidade para entrar em contato com o trabalho do jornalista e escritor norte-americano, cuja  obra sofreu influências de Jack Kerouac e a literatura beat, além do romancista e ícone da literatura universal, Ernest Hemingway.

Abaixo você confere um trecho do livro, que inspirou o filme Diário de um Jornalista Bêbado, no momento em que o protagonista descreve o lugar onde acabara de chegar:

A Plaza Colón servia de eixo para diversas ruazinhas estreitas. Os prédios pareciam amontoados. Tinham dois ou três andares e sacadas que avançavam sobre a rua. O ar estava quente, e a brisa trazia um cheiro sutil de suor e lixo. Das janelas abertas escapava uma cantoria de música e vozes. As calçadas eram tão estreitas que era quase impossível deixar de pisar na sarjeta. Vendedores de frutas bloqueavam as ruas com suas carrocinhas de madeira, vendendo laranjas descascadas por cinco centavos.

Caminhei por trinta minutos, olhando vitrines de lojas que ven­diam roupas da “Ivy League”, bisbilhotando bares cheios de putas e marinheiros, desviando de pessoas nas calçadas e temendo desmaiar a qualquer momento se não encontrasse um restaurante.

Acabei desistindo. Parecia não haver restaurantes na Cidade Velha.

A única coisa que encontrei se chamava New York Diner e estava fechada. Desesperado, fiz sinal para um táxi e pedi ao moto­rista que me levasse ao Daily News.

O motorista ficou me olhando, sem reação.

“O jornal!”, gritei, batendo a porta depois de entrar.

“Ah, sí”, murmurou. “El Diario, sí.”

“Não, diabos”, insisti. “O Daily News… o jornal americano… el News.”