Lolla parte 1: a peregrinação das massas
Preparo físico. Este era o quesito necessário para acompanhar a maratona de shows do Lollapalooza 2014, e a considerável distância existente entre os palcos – que exigia certa peregrinação das massas indie-roqueiras. O lado bom é que o som de uma atração não interferiu no som da outra, o lado chato, é que as pernas foram bastante exigidas. Mas em suma, o novo formado do festival está aprovado.
Sábado (5), o sol forte do começo de tarde fritava a cabeça da molecada quando o stroke Julian Casablancas subiu ao palco para uma apresentação, digamos, bem estranha. O som não estava bom e o repertório soou esquisito. Não sei, mas logo à primeira audição algumas faixas do novo álbum do músico (que deve sair em breve) parecem difíceis, sem contar que ele forçou um estilo gritado de cantar fora do contexto (achei). O que salvou o show de um desastre maior foi “Take It Or Leave It”. Só.
Já a cantora Lorde mostrou o porquê do seu hype, tocou praticamente seu álbum de estreia na íntegra e teve o público nas mãos do início ao fim. Presença de palco admirável, setlist com o hit “Royals” – que nem de longe é a melhor canção da moça – e a inusitada cover de “Hold My Liquor”, do Kanye West. Genial. Em seguida, fiz uma conexão Nação Zumbi-NIN. Peguei o começo da banda do Recife e o final do grupo liderado pelo Trent Reznor. Saldo positivo: batuquei ao som do maracatu-samba-rock “Samba Makossae” e ainda consegui ver o Nine Inch Nails tocar “Hurt” – impossível não lembrar de Johnny Cash.
Vale deixar aqui uma menção especial ao duo britânico Disclosure. Não sei até onde esta ótima dupla pode chegar, mas o fato é que o Disclosure foi “a atração” do primeiro dia do Lolla 2014. Com o repertório focado no ótimo Settle, discão que lançou a dupla, o Disclosure trouxe ao palco Interlagos a atmosfera sonora da dance music dos anos 90, contextualizada com o cenário musical de hoje, com belíssimas vozes inseridas em meio às batidas e efeitos sonoros. Impecável.
Lolla parte 2: absorto…
Domingo, dia 6. Entrei pelo Portão 9 (acho que era esse o número) e atravessei o mais rápido de pude, do palco Interlagos ao Onix, onde o Johnny Marr tocaria. A sorte estava comigo, pensei que show fosse começar às 14h em ponto, cheguei às 14h05, desesperado, e fiquei sabendo que ainda dispunha de quinze minutos. Foi uma ótima notícia saber que eu estava errado, Marr e sua banda estavam programados para tocar às 14h20.
A correria se justifica pelo fato de eu ser um grande fã do grupo Smiths, e com isso não poderia deixar de ver o Johnny Marr – e eu sabia que o setlist seria recheado de clássicos da banda britânica. Além disso, o álbum solo do cara, The Messenger, é um belo trabalho. Em determinado momento, pensei: “é isto, o show está ótimo”, quando Marr anuncia uma “surpresa” e chama ao palco o baixista Andy Rourke para formar um “meio Smiths”. Morri. Juntos, tocaram o clássico “How Soon Is Now?”. Ao final, para quase arrancar lágrimas do autor deste texto, Marr tocou uma das canções da minha vida, “There’s A Light That Never Goes Out”. Novamente morri.
Permaneci por um tempo absorto, e em seguida retornei, aos poucos. Hora de seguir rumo ao palco Interlagos, para ver as meninas do Savages. Me senti em Londres, ou Manchester, no final da década de 1970. A banda inglesa Savages foi intensa, com todos os elementos de pós-punk possíveis, que vez ou outra ficam simplesmente puro punk, com baixo, guitarra e bateria unidos em prol de uma agressividade romântica ímpar. E a vocalista Jenny Beth é de outro planeta, parece reunir um pouco de Ian Curtis e Siouxsie Sioux (dá pra imaginar?). Acho que vou ficar alguns dias cantarolando “No Face” e “City’s Full”. Grande show.
Tudo bem, o Pixies veio sem a Kim Deal, que não faz mais parte da banda, mas nem por isso o show deixou de ser especial. Foram mais de 20 canções (acho que perdi a conta, hehe), com praticamente todos os clássicos do lendário grupo norte-americano, destaque para “Hey”, “Gouge Away” e a baladinha clássica “Here Comes Your Man” – e algumas boas faixas do último EP lançado por Francis Black e companhia. Lindo, lindo, lindo. Ah, vi o final do Jake Bugg também, o garoto-prodígio que faz um folk rock contemporâneo e que tem recebido boas críticas. Acho que peguei as três ultimas canções, entre elas o belo hit “Lightning Bolt”, mas o fato que me fez dizer: “esse moleque é legal”, foi a versão brilhante para “My My, Hey Hey”, do Neil Young.
Minha dúvida cruel foi escolher entre Arcade Fire, banda que lançou recentemente o lindo Reflektor, e o New Order, que apesar de não estar no auge é um clássico que eu ainda não havia visto. Decidi forçar as pernas e tentar pegar um pouco de cada apresentação. Deu certo. Assisti às cinco (ou seis, não lembro) primeiras faixas do Arcade Fire – consegui ver “Reflektor”, “Flashbulb Eyes” e “The Suburbs”, entre outras – e voei para o New Order com tempo hábil de ver a reta final do show, que teve o hino “Love Will Tear Us Apart”, do pré-New Order Joy Division como momento derradeiro. Casado, e quase sem voz, voltei pra casa com o sentimento de dever cumprido. Nos vemos em 2015, Lolla.