David Bowie, a identidade musical em processo

PRÓXIMA TATOO

A lacuna que David Bowie deixa na cultura pop nunca será preenchida. O luto dos fãs é compreensível, sincero e ainda irá doer por um longo período. No meu caso, acho que não lamento tanto a morte de um artista desde 2002, quando o telefonema de um amigo me avisou sobre o falecimento de Joe Strummer (Clash). Somente hoje consegui escrever sobre o assunto, uma vez que no último post escrito neste blog, em 2015, celebrei o lançamento do álbum Blackstar.

Nos inúmeros textos que li sobre Bowie, grande parte se referia à sua genialidade de abordar a própria morte iminente no vídeo da canção “Lazarus”, ao evocar o significado simbólico do personagem bíblico ressuscitado por Jesus, e também ao cantar o verso: “olha aqui para cima / estou no céu”. De fato, há clara menção ao tema na letra e na linguagem obscura de seu clipe, o que demonstra que a vida do músico foi uma obra de arte em si. Ou seja, nele legado artístico e narrativa de vida estão conectados, embaralhados.

Mas o aspecto mais fascinante na trajetória de David Bowie foi sua capacidade de assimilar os diferentes momentos da música, e aproveitar suas texturas sonoras para gerar diferentes sentidos na cultura pop. Em seus discos é possível observar traços de folk, glam rock, new wave, punk, e música eletrônica – entre outras fontes sonoras. Por esse motivo, a genialidade de Bowie está, sobretudo, associada à sua identidade musical sempre em processo criativo, pois ela não fecha em uma delimitação de gênero, mas é deliciosamente teimosa ao escapar às tentativas de definição.

Concordo com o belo texto assinado por Hari Kunzru no Guardian, pois Bowie sintetiza a liberdade de construção dos universos de pertencimento, e essa discussão é amplamente pertinente no cenário atual, quando nos deparamos com forças conservadoras que tentam delimitar indivíduos em unicidades semânticas. Um dos principais teóricos dos Estudos Culturais, Stuart Hall, problematizara que a questão multicultural é essencial à definição de democracia. E a diversidade musical (e cultural) de Bowie remete a esse tipo de pensamento.

Afinal, o frescor de seus discos reside na facilidade com a qual o músico soube absorver a diferença – e falo isso porque há, no mínimo, dez álbuns de Bowie que obrigatoriamente devem estar em qualquer lista séria de rock. Portanto, devemos celebrar David Bowie porque sua construção identitária estava sempre aberta e receptiva às novas possibilidades estéticas, o que significa, acima de tudo, uma postura artística que reforçou a liberdade de assumir quaisquer representações na cultura pop.

Três momentos do reinado de BB King

(Crédito da imagem Bettmann/Corbis)

Você, guitarrista. Quer aprender a solar bem usando escala pentatônica? Ouça BB King, sempre. Talvez um dia você consiga encontrar o mínimo de sensibilidade necessária para tocar de maneira criativa o instrumento que esse gênio do blues esgotou. Ouvi frase semelhante quando fiz aulas de guitarra, há aproximadamente dez anos. E até hoje escuto seus discos só para ouvi-lo fazendo o que poucos guitarristas conseguiram: o tal feeling.

BB King faleceu ontem (14), aos 89 anos, enquanto dormia. A tranquilidade da morte destoa da intensidade do músico no palco. Não à toa Clapton e Hendrix se curvaram ante sua majestade blues, que emergiu do Mississippi para ganhar respeito em praticamente todas as vertentes musicais, seja inspirando roqueiros ou sendo sampleado no hip hop. Trata-se de uma joia rara insubstituível.

A seguir separei três momentos que certamente embasam o reinado de BB King: uma jam session ao lado do amigo Jimi Hendrix, na qual eles tocam “Like A Rolling Stone” (Bob Dylan), e uma lendária apresentação do guitarrista na cidade de Kinshasa, Zaire, gravada em 1974. O terceiro fragmento é uma entrevista concedida pelo músico à rádio pública NPR, que você confere clicando aqui.

Sobre “Louie Louie” e uma recente tristeza

Jack Ely, vocalista do Kingsmen que gravou a lendária “Louie Louie”. (Crédito: Don Ryan/Arquivo/AP Photo)

No início dos anos 60, a ascensão do rock britânico, capitaneada principalmente pelo trio Beatles, Rolling Stones e The Who, fez com que muitas bandas norte-americanas recebessem pouca exposição midiática. A euforia ao redor dos ingleses deixou o garage rock à margem, mas a história tratou de corrigir essa injustiça na década seguinte, pois a primeira leva de bandas punk bebia claramente na fonte dos “bastardos” Count Five, The Sonics e Kingsmen.

O Kingsmen, em especial, gravou a lendária versão para um dos maiores clássicos da era pré-punk roqueira, a canção “Louie Louie” – que recebeu versões de Iggy Pop e The Clash, entre muitas outras. Imortalizada pelo vocalista do Kingsmen, Jack Ely, morto na última semana, aos 71 anos, nota triste deste texto, a música carrega em si uma linguagem de versos indecifráveis, próxima a um estado de embriaguez e cuja rebeldia chamou inclusive a atenção do FBI.

Após uma denúncia sobre supostas “mensagens obscuras” escondidas na letra composta por Richard Berry, o FBI passou a conduzir patéticas investigações, típicas da capacidade cognitiva limitada do conservadorismo. Bizarrices à parte, o que interessa é a construção estética da versão lançada pelo Kingsmen, em 1963, uma verdadeira aula de como elaborar uma grande canção de rock com poucos acordes – ideia que amadureceu depois com o punk.

Nesta semana, a rádio pública NPR publicou uma entrevista feita com o lendário Jack Ely, na qual ele fala sobre o impacto provocado por “Louie Louie” na sociedade à época de seu lançamento (clique aqui e ouça). Sempre que escuto essa canção, penso que ela poderia perfeitamente estar sendo tocada por uma banda de garagem qualquer, com aquela microfonia linda ao fundo. Barulho bom.

O último Ramone

O sábado que amanhece cinza dialoga com a triste notícia sobre o falecimento do baterista Tommy Ramone, ocorrido nesta sexta-feira, 11. Tommy era o último integrante da formação clássica do lendário grupo Ramones que ainda estava entre nós (considerando as mortes de Dee Dee, Joey e Johnny), e tenho certeza que este fator é de grande relevância para os fãs do grupo – como, inclusive, é para o autor deste texto.

Com os Ramones, Tommy gravou os álbuns Ramones (1976), Leave home (1977) e Rocket to Russia (1977) – todos obrigatórios em qualquer discografia honesta de rock –, sem contar que o baterista também fazia parte da banda quando os Ramones enlouqueceram e encantaram os ingleses em shows realizados em Londres em 1977. As apresentações foram fundamentais para a consolidação do punk em território britânico, segundo relatos de gente do porte de Joe Strummer (Clash) e Captain Sensible (The Damned).

Uma dessas apresentações, gravada na virada de 1977 para 1978, acabou gerando o álbum ao vivo It’s Alive (1978), outra obra memorável no legado o grupo nova-iorquino. Abaixo você confere a um trecho do documentário sobre as apresentações dos Ramones na Inglaterra, e em seguida ao show que deu origem ao importante It’s Alive. Valeu, Tommy.

 

 

Junior Murvin morre aos 67 anos

 

Triste. Na última segunda feira (2), segundo o Jamaica Observer (cuja informação foi reforçada pela NME), o gênio do reggae Junior Murvin, autor de álbuns importantes como Police and Thieves (1977), Muggers in the Street (1984) e Apartheid (1986), faleceu por conta de complicações em seu tratamento de combate a diabetes.

Famoso por ser uma espécie de conexão entre o punk inglês e o reggae jamaicano, o músico compôs o clássico “Police & Thieves”, produzido pelo também gênio Lee “Scratch” Perry, que ganhou versões de Clash, Boy George e do nosso Tribo de Jah.

Durante as décadas de 70, 80 e 90, Junior Murvin trabalhou com gente do naipe de Joe Gibbs, Mikey Dread, Prince Jammy e King Tubby. A seguir você confere a versão original de “Police & Thieves”. Valeu, Junior!

 

Lou Reed: as homenagens de Arctic Monkeys, Arcade Fire e John Cale

 

O mundo da música ainda vai demorar para digerir a morte de Lou Reed – eterno líder do Velvet Underground. Desde que recebemos a notícia da morte do cantor e guitarrista, homenagens não param de pipocar na web. E eu acho justíssimo.

No último dia 28, durante apresentação na Liverpool dos Beatles, o Arctic Monkeys, ao lado do músico local Bill Ryder Jones, mandou uma versão linda para o clássico “’Walk On The Wild Side”, do álbum Transformer (1972). Curiosamente, o Arcade Fire também escolheu uma faixa deste disco para homenagear Lou, a belíssima “Perfect Day” – que também está na trilha do filme Trainspotting.

A versão do Arcade Fire, gravada em um show na NPR, pode ser conferida no site da rádio norte-americana – mais precisamente no minuto 17 do áudio.

John Cale

Os depoimentos de John Cale (foto) foram destaque no site da revista Mojo.
Os depoimentos de John Cale (foto) foram destaque no site da revista Mojo.

O site da revista Mojo, por sua vez, destacou nesta terça-feira (29) os depoimentos da lenda John Cale, parceiro de Lou nos tempos de Velvet. Discreto, mas deixando escapar momentos de emoção, o músico comentou sua relação, de altos e baixos, com o parceiro de banda.

Selecionei um trecho do depoimento de John Cale para finalizar (de maneira justa) este segundo post que presta homenagem ao eterno Lou Reed: “Unlike so many with similar stories – we have the best of our fury laid out on vinyl, for the world to catch a glimpse. The laughs we shared just a few weeks ago, will forever remind me of all that was good between us”.

Lou morre (e me recordo quando chorei ao vê-lo no Sesc Pinheiros)

“He was a master”, escreveu David Bowie em sua conta no Facebook, nesta segunda-feira.
“He was a master”, escreveu David Bowie em sua conta no Facebook, nesta segunda-feira.

 

Estava tomando minha cerveja rotineira de todos os domingos, em uma padaria perto de casa, quando fiquei sabendo sobre a morte de Lou Reed, pelo Twitter. Meu dia acabou naquele momento. Imediatamente me lembrei do show realizado pelo músico no Sesc Pinheiros, em 2010.

À época, Lou veio ao Brasil para tocar canções do álbum Metal Machine Music, projeto ousado lançado por ele em 1975. Apesar de não ser o meu trabalho favorito do cantor, fiquei emocionado ao vê-lo pela primeira (e única) vez. O show intimista ficou marcado na minha memória para sempre, principalmente, quando Lou voltou para o bis e surpreendeu a todos com “I’ll Be Your Mirror”, dos tempos de Velvet Underground. Não contive o choro.

Compartilho com vocês esta experiência justamente para prestar homenagem a um artista que influenciou gerações de músicos importantes – de Stooges a Strokes, passando por Sonic Youth, David Bowie e muitos outros. À frente do Velvet, Lou deixou, pelo menos, dois discos obrigatórios para qualquer seleção séria de rock: The Velvet Underground & Nico (1967) e White Light/White Heat (1968).

A carreira solo do músico também é recheada de clássicos – se você não conhece os discos Transformer (1972), Berlim (1973) e New York (1989), trate de pesquisar já. Ao longo desta segunda-feira (28), enxurradas de homenagens invadiram as redes sociais. A tristeza bateu forte mesmo. Sentiremos sua falta, Lou…

Entre as muitas homenagens de outros artistas, escolhi esta na qual o Pearl Jam toca a incrível “I’m Waiting For The Man”. Em seguida, como não poderia ser diferente, resgatei o vídeo que mostra Lou cantando “I’ll Be Your Mirror”, no Sesc Pinheiros. Eu estava lá!

 

 

Arturo Vega: o quinto Ramone

Da esquerda para a direita: Johnny, Dee Dee, Arturo Vega, Tommy e Joey, no final da década de 70.
Da esquerda para a direita: Johnny, Dee Dee, Arturo Vega, Tommy e Joey, no final da década de 70.

 

Desde a década de 70 até os últimos dias de existência da banda Ramones, o artista Arturo Vega esteve ao lado do grupo norte-americano. Figura ativa na cena alternativa de Nova Iorque que deu origem ao punk rock, Vega possui no currículo a elaboração do logotipo que acompanhou Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy (e, posteriormente, Marky) ao longo dos anos de vida da banda.

De acordo com o San Francisco Bay Guardian, Arturo faleceu no último sábado (8), aos 65 anos – até o momento, nenhum detalhe sobre a morte foi divulgado. Nascido no Méxido, Vega chegou a Nova Iorque no início dos anos 70. A ideia do logotipo dos Ramones foi inspirada em um selo do governo dos Estados Unidos, que o artista conheceu durante uma viagem.

Já a parceria com o grupo de punk rock foi além da elaboração de materiais como logos e cartazes. Entre os ‘apertos’ do começo de carreira, Joey e Dee Dee chegaram a morar na casa de Arturo Vega, sem contar os barulhentos ensaios dos Ramones, acolhidos no estúdio improvisado no porão da casa do artista. Mais que um amigo, Vega era um Ramone.

A seguir, dois momentos marcantes nessa relação: a entrevista na qual Vega fala sobre os trabalhos com o grupo e o lendário show dos Ramones no Rainbow Theatre, em 1977, com o famoso logotipo ao fundo do palco (claro!).

 

 

Resumo musical

Oito minutos de Chili Peppers

O grupo californiano Red Hot Chili Peppers segue divulgando a série de singles que nasceram durante as jam sessions do álbum, I’m With You. Nesta semana foi a vez da faixa “In Love Dying”, que possui oito minutos. A canção resgata um pouco da atmosfera do disco Californication e, assim como as outras músicas que integram essa seleção de inéditas, soa mais agradável em comparação ao último trabalho dos caras. A lista completa dos lançamentos está disponível no iTunes.

 

O retorno oficial do Suede

O ícone britpop Suede, que fez um show histórico na última edição do festival Planeta Terra, vai lançar seu próximo álbum, Bloodsports, no dia 19 março. Para aquecer a chegada do novo trabalho, o grupo divulgou nesta semana o vídeo do primeiro single do disco, a canção “It Starts and Ends With You”. A sonoridade resgata o espírito dos grandes momentos vividos pelos ingleses nos anos 90, com direito a clipe dos tempos atuais. 

 

Nick Cave no submundo das canções belas

O blog Cultura no Prato já havia rasgado elogios ao novo single do Nick Cave, a belíssima e poética “Jubilee Street”. Mas, como se não bastasse a canção ser boa, a faixa ainda ganhou um vídeo incrível, sexy e undergroud até a alma, divulgado nesta semana. A música vai integrar o próximo disco do Nick Cave and The Bad Seeds, Push the Sky Away, previsto para chegar às lojas em 18 de fevereiro. A moral do músico está alta, Nick Cave e sua banda foram confirmados entre as principais atrações do super festival Coachella.

 

Rest in peace, Reg

Reg Presley, vocalista do grupo de garage-pré-punk-rock The Troggs, morreu na última segunda-feira (4), após perder a batalha contra um câncer. À frente da lendária banda, Presley gravou clássicos como “Wild Thing” (que ganhou uma bela versão do Jim Hendrix), “With a Girl Like You”, “Love is All Around” e influenciou bandas do porte de Ramones e New York Dolls. Por estes e outros motivos, o blog Cultura no Prato presta uma singela homenagem ao grande Reg Presley neste post.

 

Carl Barat divulga canção nova

O futuro dos Libertines é incerto, mas o competente Carl Barat segue trabalhando. Nesta semana a NME divulgou sua tradicional playlist e eis que entre as faixas semanais que a revista costuma indicar estavaWar of the Roses”, que deve integrar o próximo disco solo do músico. O rock básico que marca esta faixa traz um refrão marcante e fácil de decorar, ingrediente que sempre acompanhou os Libertines. Ponto para o músico.

Resumo musical da semana

Banda Yeah Yeah Yeahs prevê novo álbum (e Karen O faz aniversário!)

Muitas emoções ocorreram nesta semana para os fãs do grupo norte-americano Yeah Yeah Yeahs. Como se não bastasse o níver da poderosa Karen O – uma das vocalistas mais incríveis dos últimos tempos –, o grupo anunciou que irá lançar um novo álbum em 2013. A previsão é que o trabalho seja lançado na ‘primavera do próximo ano’, segundo o site da NME. Desde a turnê do último disco da banda, It’s Blitz! (2009), seus integrantes têm se dedicado a projetos paralelos, como Karen O, por exemplo, que andou assinando trilhas sonoras de filmes (entre elas a da trilogia Millennium, que pode ser conferida no vídeo abaixo).

 

Meninas do Haim divulgam nova canção

O trio feminino Haim começou a ganhar fama no começo deste ano com o lançamento do EP Forever. De lá pra cá as meninas têm se apresentado em festivais importantes e em breve irão lançar seu disco de estreia. Recentemente o Haim divulgou o single “Don’t Save Me”, delícia de canção que mescla pop e indie (alguém aí gritou Lana Del Rey?) – por mais que isso possa parecer estranho, acredite. Na última semana foi a vez do trio apresentar o ‘lado b’ de “Don’t Save Me” , a música “Send Me Down”. A faixa, aliás, segue o mesmo conceito pop-indie. 

 

Os 40 anos do clássico ‘The Slider’

Outro dia escrevi sobre a importância do Marc Bolan, líder do T-Rex, aqui no blog. Agora, é a vez de celebrar os 40 anos do clássico The Slider, álbum lançado pelo T-Rex em julho de 1972 e que trouxe ao mundo hinos como”Telegram Sam” and “Metal Guru”, que ajudaram a moldar o glam rock. O disco ganhou uma versão comemorativa na Inglaterra (que deve chegar por aqui em versão mais simples, em breve), o Slider Box Set 40 Anniversary, belezinha que possui dois CDs, um DVD, um LP de 180 gramas e três 7 singles (já pensou?). Certamente um item irresistível para os fãs do lendário grupo.

 

Os Stones e a sueca

Selvagens e viscerais como sempre, os Stones lançaram nesta semana o vídeo da canção “Doom and Gloom”, uma das inéditas da coletânea GRRR! Greatest Hits 1962-2012, que celebra os 50 anos do grupo – um dos melhores da história, diga-se de passagem. Nas imagens, Mick Jagger aparece com um visual mais selvagens, usando uma bela Fender Telecaster e chega a lembrar o moleque magrelo que ajudou a levar os Stones ao topo das paradas. Além disso, o som de “Doom and Gloom” é pesadão e também serve como resgate sonoro da boa fase vivida banda entre o final dos anos 60 e começo dos 70. Óbvio, tudo isso sem contar que o vídeo ainda traz a participação da atriz Noomi Rapace, que viveu a garota-problema-punk Lisbeth Salander, na versão sueca (e mais legal) da saga Millenium. Os Stones seguem fazendo shows pela Europa e, ao que tudo indica, o álbum GRRR!… deve ganhar uma bela turnê mundial. Resta saber se o Brasil estará na rota – esperamos que sim.

 

R.I.P Peralta

Eis que os deuses da música decidiram que a morte do pianista de jazz norte-americano, Austin Peralta, de apenas 22 anos, iria ocorrer nesta semana. A divulgação na mídia aconteceu no mesmo dia no qual era celebrado o “Dia do Músico” – na última quinta-feira. O músico se apresentou em setembro deste ano no Cine Joia (confira um trecho no vídeo abaixo), em São Paulo, e era um dos nomes mais promissores do ritmo idealizado por nomes como Miles Davis e John Coltrane. O primeiro a se manifestar sobre o caso nas redes sociais foi o produtor Flying Lotus. “Fico arrasado por ter que escrever que perdemos um membro da nossa família, Austin Peralta. Eu realmente não tenho as palavras certas neste momento”, disse. O blog Cultura no Prato, como não poderia ser diferente, também lamenta profundamente esta triste notícia.

Dez anos sem Jam Master Jay

 

Se na segunda metade dos anos 70 você perguntasse a um garoto nascido no bairro do Queens, Nova Iorque, em qual banda ele gostaria de tocar, ele responderia Ramones. Já a mesma pergunta no início dos anos 80 teria outra resposta: Run DMC. O trio formado por Jason “Jam Master Jay” Mizell, Joseph “DJ Run” Simmons e Darryl “D.M.C.” McDaniels revolucionou o hip hop que conhecemos hoje, misturando rimas com guitarras, na histórica parceria com o Aerosmith, lançaram discos que estão entre os melhores de todos os tempos e imortalizados no Hall da Fama do Rock.

A trajetória do grupo termina em 30 de outubro de 2002 – há exatos dez anos –, data do assassinato de Jam-Master Jay, DJ e fundador do Run DMC. Após poucas investigações, a polícia preferiu citar um suposto envolvimento de Master Jay com drogas para encerrar o caso. Alegação que até hoje não é aceita pelos fãs e amigos mais próximos do músico.

O blog Cultura no Prato não poderia deixar de prestar homenagem ao grande Jam Master Jay, que entre outras façanhas foi responsável por apresentar Chuck D (do Public Enemy) ao cofundador da Def Jam Recordings e produtor, Rick Rubin. A seguir, dois momentos: uma performance clássica do Run DMC, durante os anos 80, e o retorno do grupo aos palcos, neste ano, no Made In America Music Festival Philadelphia sem a ilustre presença de Master Jay.

 

 

Joe Strummer: hoje e sempre

Joe Strummer (Foto: Bob Gruen)

 

“Uma banda é a química entre os integrantes. Essa é a lição que todos devem aprender: não bagunce isso”, diz Joe Strummer ao segurar as lágrimas no final do documentário Westway To The World, que narra a trajetória da banda britânica The Clash. O rico legado deixado por seu antigo grupo sempre foi um motivo de orgulho.

Nesta terça-feira, o músico completaria 60 anos. Se o rock possui diversos nomes fundamentais, certamente Joe Strummer está entre eles. No último final de semana, o evento “Strummer Of Love” prestou homenagem ao ex-líder do Clash, com direito a presença de seu correligionário Mick Jones.

Para um fã como eu, falar sobre Joe é assunto sério, que rende texto e muito difícil de resumir em um simples post. Mas, como não poderia deixar esta data passar, resolvi dedicar algumas palavras ao músico. Me acompanhe, por favor.

 

The Clash

 

No período em que esteve à frente do Clash, Joe Strummer trabalhou duro. Participou diretamente do movimento punk na Inglaterra e escreveu letras que dialogavam com a juventude da época. Além disso, foi peça fundamental para que a discografia do Clash figurasse entre as mais importantes. Acredite, ela é boa de doer.

Se o homônimo disco de estreia integra o famoso estilo ‘punk 77’ – mas mesmo assim ainda foi capaz de trazer uma bela releitura para o clássico jamaicano “Police And Thieves” – Given’ Enough Rope, o segundo álbum, é uma aula de rock, recheado de momentos Chuck Berry.

Já London Calling, considerado um dos melhores discos da história do rock, é coisa fina. Se a capa traz referências de Elvis Presley, o conteúdo tem jazz, rockabilly, ska, reggae e Phil Spector. Sério. A arte de experimentar ficou ainda mais forte no politizado Sandinista!, gravado na Jamaica. O projeto é mais ousado que o anterior e mistura dub e outros ritmos caribenhos à praia do Clash.

Mesmo com o sucesso comercial do Combat Rock, o Clash passava por uma crise interna. O álbum que deu ao mundo canções poderosas como “Straight to Hell” e “Know Your Rights”, além das conhecidas “Should I Stay Or Should I Go” e “Rock The Casbah”, infelizmente significou o ‘começo do fim’ do grupo.

 

O pós-Clash

 

Após o Clash Joe Strummer idealizou diversos projetos, de trilhas sonoras para filmes até atuações no cinema. Mas foi na década de 90 que o músico voltou aos palcos em alto nível, desta vez à frente dos Mescaleros. No entanto, em 2002, um problema fulminante no coração fez a voz de Joe silenciar para sempre. Fato que ainda lamentamos.

De acordo com uma entrevista da artista e jornalista Caroline Coon, concedida à NME, amiga muito próxima dos integrantes do Clash, Joe Strummer chegou a pensar em reformular a banda. No entanto, dias depois os Sex Pistols voltaram. Joe desistiu da ideia por não querer pegar ‘carona’ na reedição do grupo de Johnny Rotten.

Para os fãs de do músico, a cerimônia do Hall da Fama do Rock, realizada em 2003, foi especial. Além da merecida homenagem, o evento foi encerrado com uma bela versão para “London Calling” feita por um supergrupo formado por Bruce Springsteen, Elvis Costello e Dave Grohl.

Fica difícil imaginar como Joe Strummer estaria aos 60 anos. Talvez lançando discos e compondo. O que se pode dizer é que seria bom tê-lo na música atualmente, claro, Entretanto, a única certeza é que suas composições irão influenciar e emocionar gerações – como ocorreu com nomes como Bob Marley, John Lennon, Elvis Presley e James Brown, entre outros. Hoje e sempre.

Resumo musical da semana

Wallflowers e Mick “The Clash” Jones

A banda Wallflowers, liderada pelo filho do gênio Bob Dylan, Jakob Dylan, se prepara para lançar seu próximo disco, que irá se chamar Glad All Over (previsto para chegar às lojas em outubro). Nesta semana o grupo divulgou o vídeo do primeiro single do álbum, a canção “Reboot The Mission”, que traz a participação mais que especial do ex-Clash Mick Jones (embora o músico não apareça no clipe). Detalhe, repare que o Jakob também cita Joe Strummer na letra. Sobre o som, achei que lembra bastante Magnificent Seven, que integra o clássico álbum Sandinista!, do Clash.

 

O Madrid e sua canção triste

Li outro dia na Folha que o Madrid era um “projeto sério idealizado por ex-integrantes do Bonde do Rolê e do Cansei de Ser Sexy” (os anteriores eram brincadeira?). Não entendi, mas beleza. O fato é que este trabalho traz uma proposta mais melancólica em suas canções – o que talvez seja a grande diferença do CSS e do Bonde. No entanto, as músicas são perfeitas para dias cinzentos, até porque a gente não fica alegre sempre (Rá). Nesta semana, o Madrid divulgou o vídeo de “Sad Song” (olha só o título!), que ficou lindão em preto e branco. 

 

Rock latino de luto

Um dos principais responsáveis por misturar o rock dos Beatles e Stones com batidas latinas, o baterista uruguaio Osvaldo Fattoruso, faleceu no último domingo (29). O músico integrou o lendário Los Shakers, banda que chegou até a se aproximar do samba-rock de Jorge Bem. Dentre os grandes sucessos do grupo, destaque para “Never, Never”, que você confere a seguir.

 

A garota virou mulher

A canção sobre a garota que arrancou suspiros e inspirou Tom Jobim e Vinícius de Moraes completou 50 primaveras na última quinta-feira (2). O doce balanço que embala “Garota de Ipanema” talvez seja a canção que melhor traduz as maravilhas do Rio de Janeiro, como as praias e mulheres. Sem dúvida, trata-se de um grande clássico da música brasileira.

 

Zeca no Face

O versátil Zeca Baleiro lançou na última semana o vídeo da canção “Meu Amigo Enock”, outro belo single do ótimo Disco do Ano (modesto, né?), álbum que o músico lançou neste ano. A letra, assim como outras composições do disco, traz uma sacada muito interessante sobre os relacionamentos na era digital e, claro, não deixa de citar a rede social do momento, o Facebook.

Saudades da Amy…

 

A morte de uma das vozes mais competentes da música contemporânea completa um ano nesta segunda-feira (23). O autor deste texto recorda muito bem, pois recebeu a notícia de uma colega de trabalho, no caminho de uma entrevista que fazia parte de seu projeto de TCC. Era período de faculdade. O tempo passou rápido demais, assim como a carreira meteórica da autora do discão Back to Black (2006), Amy Winehouse.

Com fortes referências de soul, ritmos jamaicanos e dona de um visual digno dos grandes trios femininos dos anos 60, como Shangri-las e Ronettes, Amy representou uma renovação na música e nos presenteou com canções do nível de “Rehab” e “Tears Dry on Their Own”. Tudo bem, ela mergulhou de cabeça na combinação álcool-drogas, assim como grandes nomes do jazz e do rock, mas não vem ao caso criticá-la por conta disso.

Já faz um ano que Amy morreu’, os jornais estampam em seus conceituados sites. É verdade, o tempo passou, hoje sou jornalista formado e a música não tem mais Amy Winehouse. Uma coisa é certa, se o tempo nos traz alegrias, também provoca efeitos devastadores em nossas vidas, como a escritora Jennifer Egan narra brilhantemente em A Visita Cruel Do Tempo.

Se hoje é um dia triste para quem admira o trabalho da cantora britânica, vale a pena relembrar seus grandes momentos. No vídeo acima – um dos meus favoritos –, Amy resgata o clássico “Stagger Lee”, canção que ficou famosa nos anos 60, na voz de Lloyd Price. Saudades de você, Amy.