Na plataforma da estação Pinheiros, um mar de rostos joviais aguardava o próximo trem – grande parte do público vinha de metrô, e descia neste ponto para fazer a transferência, cujo destino era a parada Autódromo, em Interlagos. Não era exatamente o trem narrado por Adoniran Barbosa em sua célebre canção, mas caso fosse musicado também renderia alguma letra capaz de fazer menção à boemia, à festa. Festa de grande porte, vale ressaltar, pois o festival de origem internacional Lollapalooza a cada ano parece aumentar – talvez não em público, mas em interesse midiático e repercussão no ambiente digital.
“Olha a capa, olha a capa”, gritavam os vendedores à saída da estação Autódromo, a possibilidade de chuva, que se confirmou somente no domingo, segundo dia de evento, certamente era um bom pretexto para comercializar tal produto (a capinha de chuva). E no caminho da estação ao evento, inúmeras barraquinhas faziam a alegria da moçada, com produtos dos mais variados: camisetas, bonés, bebidas, lanches… Até performances de músicos de rua foram levados ao trajeto que dava acesso ao Lolla.
Embora boa parte das atrações fosse composta por bandas de rock, pertencentes ao chamado “indie rock”, a diversidade musical talvez tenha sido (ou sempre foi) o grande trunfo do Lolla. Bastava uma caminhada para ir do rock ao pop, do eletrônico ao hip-hop. Dolorosa era a decisão de optar por ver determinado artista/banda e, consequentemente, perder o show de outro, pois muitos horários acabaram coincidindo – este que vos escreve, por exemplo, assistiu à metade do show do Jack White, para tentar ver um pouco da apresentação do Major Lazer, do DJ Diplo. Outro ponto importante, que merece uma crítica ao festival, é o valor dos itens (comidinhas e cerveja) comercializados no evento. Achei fora dos padrões, mesmo para a chamada classe média.
Diversidade na música – ponto positivo – mas o mesmo não se viu no que diz respeito ao público, considerando a híbrida cultura brasileira. Fui com um colega uruguaio, e em determinado momento ele virou e disse, assim, na lata: “é incrível como no Brasil, dependendo do lugar onde você está, o número de negros é baixíssimo. Aqui, olhando assim, parece mais a Europa”, refletiu. Esse olhar, aplicado a outros espaços, como shoppings e universidades, por exemplo, mostra o quanto ainda precisamos promover, de fato, inclusão social.
Não sei até onde parte desse processo passa pelo preço dos ingressos, levando em conta que a cultura inevitavelmente está inserida em uma lógica industrial de produção – o que Adorno chamou de indústria cultural, em seu importante estudo elaborado no início do século XIX –, bem como quem neste país tem acesso e quem não tem. Mesmo aproveitando ao máximo os dois dias de evento, confesso que observar as coisas por um olhar um pouco mais crítico (e complexo), como fez meu amigo, é perceber que enquanto uma parte aproveita a festa, bebe e come, a outra, na mesma festa, fica restrita a recolher a sujeira.