O Mundo Livre S/A e sua resposta artística (e política) ao tempo presente

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Mundo Livre S/A no show de lançamento do disco “A dança dos não famosos”, na última semana, no Sesc Pompeia

O álbum A dança dos não famosos, do Mundo livre S/A, retoma a ideia radical de mistura sonora do manguebeat – com dub, samba, soul e menções a Tom Zé, Clash, Jorge Ben e Bowie –, mas acima de tudo é uma resposta artística ao Brasil pós-golpe. Assim, assume no contexto atual um papel importante por oferecer alternativas discursivas na cultura midiática.

O grupo recifense assume a contramão do senso comum capturado pelos regimes de verdade dos meios de comunicação hegemônicos, cujas narrativas sugerem a ideia de uma informação instrumental e neutra alinhada aos interesses do mercado (sistematicamente ocultados), e que, de tempos em tempos, ataca em bloco para manter as velhas estruturas de poder.

Fred Zero Quatro e banda são politizados e críticos ao tempo presente – a barbárie como continuum histórico, no sentido benjaminiano. O sampler, por exemplo, reproduz o pronunciamento do presidente ilegítimo, de popularidade mínima, mas querido aos olhos do deus mercado. O “choque de gestão” citado em uma das faixas se refere às medidas de austeridade defendidas pelos donos do poder (inclusive do poder midiático), que têm provocado retrocessos sociais.

Como Nina Simone certa vez disse de forma contundente: “é dever do artista refletir sobre seu tempo”. Trata-se então de uma resposta artística a um momento no qual um aparato jurídico-midiático trabalha na manutenção da exclusão de uma parcela considerável da população brasileira.  Vida longa ao Mundo Livre!

 

 

 

Rincon Sapiência e uma breve projeção (sobre práxis e linguagem) para 2018

A passagem de um ano para outro é sempre um período de especulações, promessas, metas, planejamentos e retrospectivas – esta última sob a lupa seletiva da mídia mainstream foi exibida à exaustão. Como nosso recorte aqui no blog é voltado ao campo da arte, acredito que a música pop pode contribuir bem com esse sentimento reflexivo que invade corações e mentes nos últimos e primeiros dias de cada ano.

Logo após o Natal, o rapper Rincon Sapiência divulgou o vídeo do single “Afro Rep”, que já na enunciação conecta o rap à matriz cultural africana. A canção reúne uma cartografia de intertextos, nos versos e nas imagens, recortes de fenômenos sociais que marcam articulações por novas representações, reforçadas, sobretudo, após a ascensão das mídias digitais.

Nas imagens do vídeo, há mulheres negras (entre artistas e blogueiras, novas vozes do cenário midiático!), roupas africanas e cenas filmadas fora do eixo central da cidade. A letra faz críticas a extratos sociais privilegiados (como a classe média que vê comunismo em tudo) e denuncia episódios recentes de racismo. Já a linguagem musical é onde a práxis, no sentido de prática social que possibilita a mudança, expressa os significados de celebração da diferença, em meio ao jogo de hibridização gerado pelo contato de ritmos de matriz africana com o trap e o hip hop.

O vídeo, lançado às portas de 2018, reforça a continuidade de vozes mais plurais ocupando cada vez mais espaços no próximo ano e, mesmo que a mídia mainstream passe a adotar certas demandas de representatividade, na intenção de harmonizar desigualdades, a tendência é que essas vozes se coloquem em oposição aos quadros que capturam a vida social na geração da docilidade servil ao mercado. Em suma, subjetividades que fazem o trajeto social (práxis) gerador de linguagens como a de “Afro Rep” devem assumir cada vez mais os debates – teremos então um ótimo contraponto ao momento sombrio que vive o país desde o golpe de 2016.

……….

PS (1): No meio da correria de final de semestre (2017) e algumas leituras atrasadas do doutorado demorei para assistir ao novo clipe da Anitta. Como qualquer leitura de produto midiático, é possível identificar aspectos dominantes e significados que colocam novas discussões em circulação. De forma bem resumida, separei alguns pontos positivos (na minha opinião): o cenário periférico que mostra pessoas dançando, em momento de fruição, diferente dos estereótipos abordados por certo “jornalismo”. Já o ponto negativo é a escolha do diretor de fotografia Terry Richardson, que acumula várias acusações de assédio. Terceiro ponto que gostaria de destacar, e aí deixo a questão para futuras discussões: não sei se a cena do rapaz com a mão no bumbum da Anitta se encaixa na ideia de autonomia da mulher, geralmente associada ao do rebolado do funk, acredito que neste aspecto há um paradoxo.

PS (2): Como nessa época de final de ano a gente reencontra amigos, família e pessoas que não vemos há tempos, geralmente nos deparamos com aquele amigo/parente conservador. Juro que não fazia ideia de como o artista Pabllo Vittar incomoda, de fato o discurso heteronormativo e as delimitações fixas de sujeito sempre em jogo nos imaginários ainda exercem forte influência sobre o senso comum.

 

QOTSA: um minuto de “garage punk”

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O Queens of the Stone Age lança no dia 25 de agosto o álbum Villains e o grupo de Josh Homme divulgou ontem o teaser com um trecho da faixa “Here. We. Come.” (vídeo abaixo), deixando à mostra um minuto de garage punk.

O aspecto que marca o porvir sonoro do QOTSA é o encontro de Dead Kennedys com garage 60, no estilo “banda de porão” que enfrenta o mainstream com distorção e rapidez. Vem coisa boa aí.

Gorillaz: o experimental, o real, o virtual

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O grupo Gorillaz, liderado pelo combativo Damon Albarn, lançou neste ano o álbum Humanz e desembarca na América do Sul em dezembro para o Bue Festival (Argentina). Na última semana, uma apresentação da banda ocorrida na cidade de Colônia (Alemanha) vazou na íntegra na web, deixando pistas da turnê que vem ao território latino-americano em breve.

A virtualidade do grupo traz uma série de questões acerca das relações banda/público e estúdio/show. Se no âmbito virtual das telas e/ou armazenamento fonográfico o Gorillaz é composto por integrantes-animação, no palco Albarn e companhia se apresentam como músicos reais, enquanto paradoxalmente os desenhos emergem no telão para estabelecer o jogo imagético dos tempos de imagem-valor.

Musicalmente o som do Gorillaz combina dance, hip hop e indie. No entanto, no show os recursos sintéticos do estúdio que reduzem a presença de vozes e instrumentos tocados dão lugar a uma banda robusta, com quatro backing vocals, baixo, guitarra, bateria, teclado e piano. O desencaixe e combinações não-lineares entre o acústico e o eletrônico são as grandes sacadas do grupo. Ainda há fôlego para participações especiais, como a de Jehnny Beth, do incrível Savages, em “We Got the Power”. Baita show.

Adriano Cintra divulga demo com 13 faixas

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Foto: reprodução do perfil do artista no Facebook.

O músico e produtor Adriano Cintra divulgou nesta semana uma demo com 13 faixas, na sua página do Facebook. O trabalho reúne canções que mesclam boas referências acumuladas ao longo da trajetória de Adriano. Em “Backfiring”, por exemplo, há boas doses de New Order, enquanto “Sometimes You Just Do” remete à sua antiga banda Cansei de Ser Sexy – grupo que surgiu em um dos períodos mais interessantes do underground de São Paulo. Enfim, temos aí boas doses de pop, anos 80 e electro rock.

2017 Demos é fruto de um período de 24 dias de gravação, que segundo o próprio músico refletem a imersão do artista em seu próprio tempo criativo. Ao postar o link na rede social, Adriano escreveu o seguinte “Em 24 dias eu compus/fiz as demos dessas 13 músicas. Tem mais uma que só vai pro ‘disco’ que vai estar logo mais nos streamings de suas preferências. Amanhã vai pra mixagem, só assim pra eu parar. Teve uma hora que eu achei que ia fazer um disco duplo mas daí eu fui ouvir uns discos duplos e sei lá, achei meio vyagy

PJ Harvey e sua geopolítica sônica

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A cantora britânica PJ Harvey tem inserido nos seus últimos trabalhos temáticas geopolíticas de forma poética, enfrentando assim o contexto pop meramente comercial. À semelhança de outros artistas, que em tempos distintos aderiram a questões políticas, PJ tenta contrapor, por meio da linguagem, um momento em que a barbárie adentra o senso comum como poder disciplinar. Brecht certa vez mencionou, no auge do fascismo na Europa, que vivia tempos em que era preciso defender o óbvio, tamanha a ignorância de quem se rendia ao discurso do autoritarismo.

Em seu novo single, “The Camp”, PJ Harvey narra a jornada de crianças deslocadas com suas famílias à região de Vale do Beca, no Líbano, parceria artística com o fotógrafo Giles Duley – são dele as imagens que ilustram o ótimo vídeo da faixa. Os vocais são divididos com o músico egípcio Ramy Essam.

Muitos sentidos emanam de “The Camp”, e talvez o mais significativo aos tempos atuais seja o fato de a cantora jogar luz sobre uma realidade que nos permite questionar o “progresso capitalista”. A parceria com Essam, por sua vez, atravessa fronteiras geográficas e delimitações culturais, para colocar a canção como potência de alteridade.

Em tempo:

Como parte da série UNESCO Grandes Mulheres da História Africana, caiu nas redes hoje o livro digital Njinga a Mbande: Rainha do Ndongo e do Matamba (para baixar clique aqui), mulher marcante na história de Angola do século XVII. O material ainda reúne um riquíssimo trecho pedagógico para professores levarem a temática às aulas. Imperdível.

Songhoy Blues lança “Résistance” em junho

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Foto: Africa Express

Na mão contrária da homogeneizante indústria fonográfica, o quarteto malinês Songhoy Blues segue propondo novas sensações sonoras. O grupo lança seu próximo álbum, Résistance, no dia 16 de junho, e dá sequência ao caminho de alteridade no cenário musical, aberto pelo disco de estreia Music in Exile (2015).

A presença da banda nos espaços midiáticos dos mais variados tipos – streaming, tevês, rádios, redes sociais, festivais etc. –, é experiência outra de fruição, que geralmente o chamado ocidente, viciado em produções norte-americanas e europeias, ignora. A primeira amostra desse novo trabalho é a funkeada “Bamako”, homenagem à capital do Mali, onde tudo começou.

O funk, entretanto, é apenas um dos elementos usados na linguagem, uma vez que a letra cantada em dialeto songai, as menções ao desert blues e a produção de Neil Comber (que já trabalhou com a M.I.A., apenas) colocam diferentes textos no mesmo espaço. Não há preocupação em pertencer a um enquadramento específico, mas o que importa é valorizar os movimentos.

Em tempo: Résistance ainda conta com as participações de Elf Kid e (do gênio imortal) Iggy Pop.

O track list de Résistance:

  1. “Voter”
  2. “Bamako”
  3. “Sahara” (featuring Iggy Pop)
  4. “Yersi Yadda”
  5. “Hometown”
  6. “Badji”
  7. “Dabari”
  8. “Ici Bas”
  9. “Ir Ma Sobay”
  10. “Mali Nord” (featuring Elf Kid)
  11. “Alhakou”
  12. “One Colour”

Alma jamaicana

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Cedric Myton (foto) e Ken Boothe estão tramando. Os lendários músicos (magos) jamaicanos trabalham juntos no álbum Soul Of Jamaica, produção que será lançada em 17 de março e vai reunir releituras de diversos clássicos da Jamaica, faixas que compõem o chamado rocksteady – termo usado para classificar o reggae em seus primeiros anos.

Gravado em uma região montanhosa de Trench Town, o disco vai reunir veteranos de Kingston e artistas contemporâneos, todos nascidos na efervescente terra do reggae, do ska e do dub, entre outras vertentes. Kiddus I é um dos jedis que participam do projeto. Em entrevista recente ao Guardian, ele destacou o processo analógico de gravação ao qual será submetido Soul Of Jamaica – os jamaicanos, aliás, são pioneiros em uma série de mixagens e técnicas que originaram o hip hop e a música eletrônica. Negar o digital, para esses veteranos, é resistência minoritária.

Já sobre as canções que entram no disco, destaque para duas preciosidades capazes de reforçar a importância do reggae na música produzida no último século, as faixas “Youth Man” (da antiga banda Congos, de Myton) e “Artibella” (Boothe). Ambas as releituras são importantes para jogar luz sobre uma questão importante: há diversos artistas interessantíssimos na Jamaica, além de Marley.

Com exceção de alguns polos nacionais importantes, a exemplo de São Luís (Maranhão), não é muito comum o consumo da música jamaicana que foge do eixo Wailers-Marley-Tosh (e eles são geniais, minha crítica é que precisamos olhar a riqueza de outras produções jamaicanas). E é justamente esse aspecto de ampliação de horizonte que faz de Soul Of Jamaica um belo convite para adentrar o universo enfumaçado de Kingston.

Blondie divulga faixa com participação de Johnny Marr

O lendário Blondie lança o álbum Pollinator no dia 5 de maio. O disco reúne algumas participações interessantes como Sia, Charli XCX, o guitarrista Nick Valensi (Strokes) e Dev Hynes, mas é na presença de Johnny Marr (Smiths), na canção “My Monster”, que o significado pós-punk/new wave é reforçado na linguagem.

Pollinator funciona como rearticulação da memória musical do próprio Blondie, uma vez que outras faixas divulgadas do trabalho resgatam o clima de obras clássicas como Parallel Lines (1978). Por esse motivo, contar com os acordes de Marr é reafirmar a ideia de que o Blondie dos tempos de CBGB não está confinado ao passado ou nos suportes de áudio. Não à toa, na turnê que irá passar pelo Reino Unido o grupo de Debbie Harry se apresenta no Roundhouse – casa de shows que já recebeu Patti Smith e Clash.

Pollinator mantém também diálogo estético com a música recente, ao contar com a guitarra de Nick Valensi, por exemplo. O grupo de Valensi, aliás, foi diretamente influenciado pelo Blondie, sobretudo no ótimo Is This It (2001). Esse aspecto joga com significações temporais e demonstra que a banda norte-americana não está preocupada com cristalizações, mas disposta a reaproveitar textos do passado e da música contemporânea.

“Ghost in the Shell”: reflexões sobre o pós-humano e o pós-industrial

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O primeiro trailer da série de mangá Ghost in the Shell foi divulgado na última semana e, seguindo a lógica da publicação que lhe deu origem, exibiu visual futurista com imagens que remetem a momentos Ridley Scott, entre outros autores de ficção.

Na trilha sonora, a versão (remix) do produtor Ki Theory para “Enjoy the silence” (Depeche Mode) parece conectada ao filme na essência do ato de adaptar, o que também ocorre com o filme – já que este sua forma original, se é que podemos usar esse termo, possui linguagem de quadrinho. Não se trata de um aspecto negativo, mas considerar que reproduções e adaptações são formas artísticas do nosso tempo. Entretanto, há outra ideia que atravessa a obra, a estrutura de uma sociedade futurista hiperconectada e em constante simulacro.

Muitos autores discutiram a relação entre humanos e tecnologias, impossível não abordar essa temática hoje, uma vez que as pessoas circulam com telas e dispositivos em praticamente todos os espaços públicos. Jean Baudrillard, por exemplo, em sua obra fala sobre a erosão do sujeito, da política e da informação – no caso da mídia, podemos considerar que imagens aleatórias deixam de mediar, ou seja, temos uma mídia antimediadora por sua indiferença.

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Se o sujeito desaparece na superação da metonímia sobre a metáfora, na visão de Baudrillard, para a autora Dora Haraway ele se converte na figura metafórica do ciborgue, outra questão que aparece em Ghost in the Shell. Mas claro, longe do humano com recursos robóticos do filme, o ciborgue de Haraway ultrapassa o dualismo homem/mulher ao multiplicar as possibilidades de gênero.

Assim, a ficção que chega aos cinemas não deve ser lida como mero produto da indústria cultural, mas como possibilidade de reflexões sobre conceitos pós-humanos da era pós-industrial. Somos hiperconectados, mas existe ética nessa comunicação em meio ao espetáculo técnico-imagético? Há muitas configurações de corpos possíveis, por que ainda enxergamos dicotomias? Sobre tais aspectos, Haraway e Baudrillard, aplicados a certas produções futuristas, despertam provocações acerca do mundo tecnológico, que nem sempre significa avançado.

O documentário sobre os Stooges e uma cena que moldou o punk

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O que as atitudes chocantes de Sex Pistols, Richard Hell e Dead Boys têm em comum? Esses grupos compartilham uma série de elementos que, cada qual à sua maneira, sintetiza a postura do punk rock: performances incendiárias, posturas que provocam arrepios nos estratos conservadores da sociedade e uma parede sonora rústica, barulhenta e de poucos acordes.

Um dos pais desse estilo é o grupo norte-americano Iggy and the Stooges. O documentário Gimme Danger, do cineasta Jim Jarmusch, que estreia em outubro nos Estados Unidos traz um ingrediente especial proporcionado por cenas raras. Em uma delas, a lendária banda toca em Cincinnati, em 1970, apresentação marcada por uma performance irresistível de Iggy – de linguagem caótica, digerida e seguida por muitos grupos do chamado “punk 77”, a exemplo da arte que estampa a capa do primeiro álbum do Damned.

Um trecho do filme que mostra essa apresentação foi divulgado nesta semana – confira aqui. A música (gritada) é “1970”, do ótimo Funhouse.

A parede sonora sombria de Nick Cave

Dois lançamentos marcam o retorno do gênio Nick Cave ao cenário musical: o álbum Skeleton Tree e o filme One More Time With Feeling, ambos chegam na mesma data, dia 9 de setembro. O documentário é dirigido por Andrew Dominik e será exibido no festival de Veneza, já o disco é o décimo sexto do artista com sua banda Bad Seeds.

One More Time With Feeling reúne imagens dos bastidores da gravação do novo álbum, interessante aproximação do processo criativo de Nick Cave e os Bad Seeds. O single Jesus Alone, divulgado nesta semana, introduz com sua parede sonora a temática dos dois produtos, mostrando um pouco do significado sombrio (no bom sentido artístico da linguagem) que transborda da estética musical e também da audiovisual. São seis minutos de canção, que desafiam inclusive o conceito de música massiva enquadrada geralmente em três minutos. É muita arte.

MØ encontra o reggae em versão para “Lost” (Frank Ocean)

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Cheguei a pensar que o acontecimento musical desta semana seria o som novo da M.I.A., “Bird Song”, faixa pesadona produzida pelo Blaqstarr. Mas o mergulho da cantora MØ no reggae/dub que conduz a ótima releitura da artista para “Lost”, do Frank Ocean, merece destaque neste espaço comunicativo.

Não é apenas pelo fato de a cantora meter os dois pés em Kingston, nesta gravação feita para um programa da inglesa 4Music, mas por conta da mistura de sons sintéticos que ecoam das simulações do aparato eletrônico com a bateria. Interessante menção ao dub jamaicano, a faixa já pode entrar na listinha de versões que superam as originais, sorry Frank.

Em tempo: ouçam também “Bird Song”, da M.I.A., vale muito a pena.

 

Uma session com o Kills

 

A dupla The Kills gravou no último final de semana uma session na plataforma Deezer. A performance de Alison Mosshart e Jamie Hince é somente voz e violão, uma lindeza de linguagem visual dark e textura sonora hipnótica. Após o intervalo de cinco anos sem um álbum de inéditas, o duo retornou com o belo Ash & Ice, lançado em junho – é possível ouvir o disco na íntegra na própria Deezar, clique aqui.

Boa viagem.

 

O “tênis-pedal wah wah” e a modificação na linguagem da performance

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O modelo de calçado All Wah, que acaba de ter seu release audiovisual divulgado nesta semana pela fabricante Converse, não estabelece apenas uma conexão estética com o rock, mas altera a linguagem da performance dos guitarristas. Trata-se de um tênis que traz um dispositivo capaz de ser plugado diretamente pelo cabo da guitarra e que simula o mesmo efeito distorcido do pedal wah wah.

O protótipo ainda está em testes, mas remete à ideia de que um meio inserido em determinado ambiente altera sua expressividade, semelhante ao trabalho do teórico Marshall McLuhan (1911-1980) – que trabalhou os meios de comunicação como extensões do homem. Hendrix e sua guitarra podem ser considerados um exemplo dessa ideia aplicada à música. Aliás, às vezes tento imaginar o que o lendário guitarrista estaria produzindo hoje.

Mas voltado ao calçado, a presença do dispositivo interno opera diretamente na linguagem corporal porque o pedal está ausente e os sinais elétricos perpassam os pés do guitarrista. Tem-se aí o “prazer da confusão de fronteiras”, como escrevera Donna Haraway no célebre ensaio Manifesto Ciborgue, pois o signo emitido a partir dessa mistura homem/tecnologia é confuso por deslocar as definições – a própria imagem mostra cabos conectados ao pé do músico.

O advento certamente aciona muitas teorias, resta saber se a aplicabilidade do tênis-pedal no processo criativo também irá imprimir mudanças e novas possibilidades. A seguir o vídeo de lançamento.