DJ Tudo e Joe Strummer: discos que nos revigoram em tempos difíceis

Dois lançamentos movimentam a semana e oferecem algo valioso: boa música. Começo falando sobre o disco Pancada Motor – Transformação e Cura, que reúne produções do artista DJ Tudo elaboradas entre 2014 e 2019. Para quem não o conhece, DJ Tudo é um pesquisador de cultura popular, seus discos são fruto de viagens nas quais ele percorre diferentes regiões, do Brasil e outros países, em busca de artistas locais com quem grava e elabora seus discos. Trata-se de um trabalho que pensa o popular como um espaço criativo sem fronteiras ou delimitações, um lugar de encontros diversos. Daí vem a riqueza de sua obra que promove encontros sonoros inesperados, a exemplo da faixa Alegria, que reúne artistas populares da cultura baiana de barreiras (de Coruripe, Alagoas) com um virtuoso guitarrista que mora em Paris. DJ Tudo publicou uma live com o disco na íntegra, na qual ele comenta o disco faixa a faixa. Confira aqui.

Outro lançamento ocorrido nesta semana é o álbum Assembly, que reúne registros ao vivo de Joe Strummer (ex-Clash) e seu grupo the Mescaleros. O trabalho traz inclusive registros inéditos como a versão acústica de Junco partner, entre outros clássicos gravados ao vivo que resgatam o repertório do Clash – como I fought the law e Rudie can’t fail. O disco também apresenta versões ao vivo de canções que marcaram a carreira solo de Joe e registros de faixas que produziu com os Mescaleros. Assembly resgata a obra de Joe ao apresentar ao público canções que representam diferentes momentos de sua carreira, trabalhos que têm em comum a capacidade do artista em organizar diferentes referenciais rítmicos e culturais, muito além do rock britânico, uma trajetória de aproximações com a música jamaicana, o hip hop, a percussão africana etc. Trata-se de uma sensibilidade artística de experimentar e tomar rumos inesperados, enriquecedores.

O álbum pode ser conferido aqui:

Há também um vídeo divulgado hoje que ilustra a faixa I fought the law:

DJ Tudo e Joe Strummer possuem trabalhos que mobilizam diferenças e alteridade, algo que nos revigora em tempos difíceis em que é preciso manter distância das pessoas, mas sobretudo porque são obras que se colocam em oposição a certos discursos xenófobos e preconceituosos que ganharam força nos últimos tempos.

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